"SELF RESPECT"
Não sei que raio de catraca terá o senhor Pinto de Sousa (Sócrates) arranjado para pôr os magistrados em polvorosa. O que sei é que apanhei com uma data de representantes sindicais da ilustre e douta classe a chatear o teleespectador com as suas queixas: que vão incluí-los na função pública, que vão pagar-lhes pela mesma caixa que paga aos funcionários, que está em causa a independência das magistraturas, que os julgamentos passarão a ser feitos em função dos interesses do patrão, e patati e patatá.
Pergunta o infeliz, ignaro e burro cidadão:
- Então, se não for o Estado a pagar aos magistrados, quem há-de ser?
- Se é, que diferença faz que pague por aqui ou por ali?
- Então a independência dos magistrados não se consubstancia na irresponsabilidade do acto de julgar?
- Se sim, ter-se-ão os magistrados em tão fraca consideração que se consideram, fatalmente, capazes de julgar em função dos interesse de quem lhes paga?
- Então, para ser independentes, acham os magistrados que deviam ser os próprios a pagar-se, ou a determinar quanto, como, e quando são pagos?
- Se sim, o dono do dinheiro (o infeliz, ignaro e burro cidadão) não tem nada a ver com o assunto, através dos seus legítimos representantes?
O drama, neste tipo de histórias, é que os magistrados, quando toca aos seus interesses, são exactamente iguais aos metalúrgicos, aos ferroviários e às empregadas da limpeza.
Terá o infeliz, ignaro e burro cidadão perdido (também) o direito de se achar com direito a esperar da nobre e poderosa classe mais um bocadinho de self respect?
Tudo indica que não.
António Borges de Carvalho