OS NEGÓCIOS DO SENHOR PINTO DE SOUSA (SÓCRATES)
Com o costumeiro foguetório, anuncia o governo como mais um gigantesco triunfo da capacidade negocial das suas gentes, que vai receber um cheque de 700 milhões de dólares, preço de acções que detinha na sociedade de Cabora Bassa, onde Portugal era maioritário, ficando agora com 15% da dita, e obrigando-se a vender mais 5%, não se sabe a que preço.
Retirado o triunfalismo à coisa, teremos que os moçambicanos esperaram calmamente que a barragem atingisse o break even, isto é, que a coisa estivesse paga, a fim de “herdar”, por um preço ridículo, um empreendimento já limpinho dos encargos financeiros que o tenebroso colonialista pagou durante os esforçados 32 anos que se seguiram à independência.
Agora, que a coisa começa a render, o melhor é entregá-la. Pelo menos, deve ser o que pensa o esclarecido governo do senhor Pinto de Sousa (Sócrates).
Acresce, em abono da genialidade negocial da ilustre gerência socrélfia, que a mesma se esqueceu de incluir no espantoso acordo uma coisa de somenos, quer dizer, uma cláusula que cobrisse as flutuações cambiais. Isto, numa altura em que o dólar começava a andar pelas ruas da amargura. Feitas as contas, o erário público vai receber menos 40 milhões de euros.
Mas não faz mal. O governo continua a anunciar os seus feitos, como se não fosse nada com ele. Os prejuízos nem sequer entram para o orçamento, who cares!
Diz o DN que os 700 milhões vão à conta da dívida pública, a qual conhecerá, assim, uma descida de 0,3%. Conclui-se que a dívida pública se cifra em 13.333 milhões de dólares, cerca de 10.000 milhões de euros. Sabem o que isto quer dizer?
António Borges de Carvalho