ESTÉTICA SOCIALISTA
Em admirável manifestação de bom gosto e de extremoso amor natalício, a câmara Costa/Fernandes colocou, ao longo da Avenida da Liberdade, uns matacões de ferro, os mais deles completamente ferrugentos, outros pintados a furta cores. No Marquês, ergue-se um volume de sucata com as letras da palavra AMOR! Lindo! Pela avenida abaixo, os ignaros munícipes podem regalar-se com a visão admirável de mais uns mamarrachos de sucata, figurando os números 1,2,3,4,5,6,7,8 e 9, coisas de significado inextricável, mas com certeza inventadas por algum “artista plástico” de grande nomeada no Largo do Rato. De estarrecer! Ao chegar ao Rossio, a coisa entra em paroxismo, num frenesi de inenarrável beleza. Junto ao lago do lado Norte, que não funciona há que anos, os mamarrachos multiplicam-se, uns em cima dos outros, com as letras da palavra LOVE. Que ternura!
A somar a esta extraordinária manifestação de qualidade artística, a colunata do Dona Maria e a fachada do Palácio Foz, como se de obras de demolição se tratasse, foram tapadas com cartazes brancos, disfarçando aqueles horrores com cartazes com a cara daquela carapinhosa pintada de louro que se esganiça a assassinar o Fado, mais a do Ronaldo, do Mourinho e de mais uns tipos tidos por “grandes portugueses”.
Não se sabe quanto custou a coisa, mas o Irritado arrisca a opinião de que foi, com certeza, muito mais caro do que pôr os repuxos da fonte a funcionar. Será para isto que a câmara Costa/Fernandes pediu um empréstimo, que todos vamos pagar com juros?
Relevadas estas dúvidas, resta aplaudir, sem reservas, mais este contributo do socialismo para a cultura do povo.
António Borges de Carvalho