Casas para o Povo!
Li, num jornal qualquer, que há, em Portugal, mais habitações per capita do que na Alemenha. Não fiquei surpreendido.
A República, nas suas duas primeiras versões, ou seja, desde os seus tristíssimos quão repugnantes primórdios, dedicou-se à nobre tarefa de destruir o mercado de arrendamento. Na sua terceira versão acabou com ele em definitivo.
Em paralelo com esta nobre missão, a III República convenceu os portugueses de que, ou compravam uma casa, ou não eram gente. Desenvolveu incentivos vários ao endividamento imobiliário, criou condições óptimas para que a banca visse no respectivo crédito o negócio dos negócios e, mantendo as rendas antigas ( a recente reforma do arrendamento é uma máquina de aumentar os impostos, não uma “reconstrução” do mercado), provocou uma inflação brutal nas novas, empurrando por essa via, ainda mais, para a “necessidade” de ter casa própria.
As poupanças dos portugueses, ao contrário das dos alemães, foram desviadas da economia, o mercado de capitais nunca se democratizou, e todos, a começar pelos felizes proprietários de um andar hipotecado ad aeternum, sofremos com isso.
Os portugueses vão tendo cada vez mais casas e ficando cada vez mais tesos.
Não há pior cego do que o que não quer ver. Nesta matéria, o governo do senhor Pinto de Sousa (Sócrates) é mestre.
António Borges de Carvalho