À NORA
Anda tudo à nora com a história do referendo.
Quem não tem problemas é o Doutor Cavaco, porque sempre foi contra, e o senhor Pinto de Sousa (Sócrates), porque foi sempre a favor. Aquele mantém a coerência. Este também, porque não cumpre uma promessa, o que, para ele, é uma forma de coerência. O Presidente Soares já veio, muito aflito, dizer que isso do referendo era dantes. Vá lá, sempre foi “pragmático”. Mete o referendo na gaveta.
O PSD, que substituiu um suicida por um parvo, é contra. Muito bem. O parvo está a fazer-se ao Bloco central, e há que dar uma ajudinha ao parceiro. O suicida, por seu lado, ao contrário do que prometeu, vem desautorizar o parvo, a fim de continuar a contribuir para o extermínio do partido.
Nos extremos, a coisa é fácil. Há que arranjar tempo de antena, o resto é conversa. Nada melhor que um referendozinho para se ver o Monteiro, o Portas, o Jerónimo, o Louçã e quejandos, todos os dias, na televisão. Aliás, tudo o que é comunista ou apaniguado, fascista, proto-fascista ou não muito longínquo, é, ferozmente, a favor da “audição” da “vontade popular”.
O resultado desta pessegada talvez não seja mau: a ausência de referendo livra-nos-á de uns meses de demagogia e aldrabice.
António Borges de Carvalho