A LEI DO BARBAÇAS
Anda meio tonto o barbaças cabeludo da saúde que passa a vida na televisão, a tentar explicar a inexplicável e absurda lei do tabaco. O fulano ainda não percebeu que o mais prático era chutar para cima, isto é, mandar as dúvidas para esclarecimento aos senhores deputados socrélfios. Eles que descalçassem a bota.
Mas não. O homem deve achar que esta é a “janela de oportunidade” da sua vida. Que diabo, nem a todos é dado celebrizar-se, tornar-se uma cara conhecida do respeitável público! Ainda por cima com uma cara daquelas, o barbaças deve achar, com inteira razão, que se torna inesquecível.
Como não podia deixar de ser, o homem mete os pés pelas mãos, não faz a mais pequena ideia de como se põe em prática a estupidez legislativa que, parece, lhe compete regulamentar, atrapalha-se com os casinos, com as discotecas, com as tabernas, não consegue definir o que é um exaustor adequado aos tenebrosos eflúvios do tabaco, já não sabe se os fumadores têm direito a dez por cento, trinta por cento, ou seja lá o por cento que for de espaço, não sabe o que está ou não compreendido nas listagens da estúpida lei, não sabe nada, mas vai dizendo coisas, a bem, pelo menos, da imposição televisiva do seu inesquecível fácies. A sua pública prestação seria só cómica, se não fosse patética.
Em sua defesa salta, como costume em casos do género, o esclarecido director do “Diário de Notícias”, sempre, sempre, ao lado de tudo o que cheirar a socratismo. Aflito, o homem escreve que “a lei do tabaco está em risco”, que pode “deixar de funcionar”, que, ó horror, por este andar “a lei do tabaco acabou”.
Se a distinta maioria socialista tivesse um mínimo de bom senso e fizesse leis aplicáveis à sociedade tal como existe, e não ao “homem novo” cuja “criação” foi sempre objecto de todos os socialismos, talvez o barbas tivesse a vida facilitada (embora não aparecesse na televisão), talvez o director do “Diário de Notícias” não sofresse tanto, talvez houvesse, da parte dos cidadãos, alguma compreensão e algum apoio a uma lei que até podia ser útil.
António Borges de Carvalho