OS INTOCÁVEIS
Diz um estudo da Fundação Luso-Americana que, à Justiça portuguesa, não falta dinheiro, nem pessoal, nem instalações, nem nada.
Falta eficácia, dizem os craques que se debruçaram sobre a matéria.
Nada, afinal, de que os desgraçados dos portugueses não suspeitassem já.
Em Portugal, ainda que as classes profissionalmente altas (juízes, médicos, engenheiros…), se assumam como se baixas fossem em matéria de reclamações, exigências, reivindicações, sindicatos, etc., continuam a gozar de um prestígio ou de um benefício da dúvida que ninguém põe em causa. Basta um profissional qualquer desatar aos gritos que tem ratos no escritório, que quer mais dinheiro e menos trabalho, ou coisa que o valha, logo, pressurosas, as televisões lhe dão tempo de antena e os jornais espaço de manobra.
A Justiça não funciona, mas os juízes são uns tipos bestiais.
A saúde é uma desgraça, mas os médicos não têm culpa nenhuma.
As pontes caem, mas os engenheiros estão acima de qualquer crítica.
E assim por diante.
Quem ainda não teve um caso na Justiça anos e anos, às vezes por causa de um problema de cácárácá?
Quem ainda não teve que meter uma cunha para ser visto por um médico?
Quem ainda não teve um processo de chacha na câmara municipal a aboborar durante uma eternidade, à revelia da lei dos deferimentos tácitos?
Se a FLAD fizesse um estudo sobre outros sectores da vida portuguesa, para além da Justiça, chegaria às mesmas conclusões. Os médicos não são mal pagos (olhem os espanhóis a querer vir para cá!), os juízes também não, os outros a mesma coisa.
Então, porque trabalham tão mal? Porque se consideram umas primas donas, o suprassumo do bornico quando se trata de servir a sociedade, mas passam a vida entretidos com queixas, queixinhas e reivindicações?
O que se passa nesta sociedade? O que se passa neste país?
A ideia que fica é que o socialismo do Estado Novo foi continuado pelo socialismo da Democracia, juntando-se aos defeitos do estatismo, que continua, as consequências dos abusos da Liberdade e do Direito, que foram coisa nova mas que já são trintões, sem que a tal sociedade tenha ainda percebido para que servem, e como devem ser usados.
Qual é a saída?
António Borges de Carvalho