ESPANHOLADAS
Os chamados cidadãos europeus gozam de liberdade de deslocação e de residência nos países da União.
No entanto, se se mudam, têm, naturalmente, de aceitar as leis próprias dos países para onde vão residir ou trabalhar. Parece isto lógico.
Em França, ou na Alemanha, por exemplo, quando se muda de residência tem que se mudar a matrícula do automóvel e que pagar os impostos próprios da região. Por maioria de razão passa-se o mesmo com os estrangeiros. Quem for viver e trabalhar para lá, se quiser levar o carrinho, tem que o registar no país, e na sua área de residência.
Será tudo estúpido, se quiserem. Mas é assim.
É verdade que em Portugal os impostos sobre os automóveis são, como a generalidade dos impostos, de um exagero e de uma injustiça a toda a prova. Mas também é verdade, desgraçadamente, que quem por cá moureja tem que os pagar, não é?
Então, por que carga de água querem os ilustres clínicos espanhóis ter o direito de vir para cá viver e trabalhar, se não querem pagar os mesmos impostos que os portugueses, e registar os carrinhos como os portugueses? É só receber, ou quê?
Nada disto impediu, com a natural consagração que o primitivismo da nossa imprensa lhe confere, que o caso dos médicos espanhóis atacados de caloteirite fiscal tenha sido um dos principais temas da cimeira ibérica de Braga. As nossas autoridades, em vez de dizer aos fulanos que fossem bugiar, disseram que ia “estudar o assunto”.
Está-se mesmo a ver que os distintos médicos espanhóis vão circular por aí à vontadex, enquanto os portugueses vão continuar a pagar e não bufar.
Se assim for, como tudo indica, eis a solução: para além da gasolina, vamos passar a comprar carros em Espanha. São (muito) mais baratos e o mais provável é virem a ficar isentos de impostos! Boa!
António Borges de Carvalho