Parecer de um laico
Já toda a gente (toda?) percebeu que, afinal, o Papa fez um discurso académico em que (auto) criticava a sua igreja, ao mesmo tempo que defendia a compatibilidade entre crença e razão, e dizia não à violência em nome de Deus.
Nada, absolutamente nada, do que disse, continha qualquer ofensa ao que se chama Islão, ainda menos qualquer ideia de superioridade ou de desprezo em relação a tal entidade.
Compreende-se que a barbárie islâmica tenha aproveitado para fazer um xarivari dos diabos. Estão ali para isso. São niilistas, querem a guerra pela guerra, a morte pela morte, e compram as ideias de condotieris auto iluminados que, com cobertura religiosa, defendem interesses e estratégias de poder que pouco têm a ver, para além do primitivismo, do atrazo e da ignorância das massas que atiram para a rua, com crenças religiosas ou justas reclamações em relação ao que se chama Ocidente.
O mais grave, porém, é a reacção imediatista, sensacionalista e acrítica dos media ocidentais. Foi tal o barulho, não dos “protestantes”, que fizeram as habituais encenações para “ocidental” ver, mas dos órgãos de informação do lado de cá, que a ninguém informaram de forma a que fosse dado perceber, ou sequer poder analisar, o que, na verdade, se passou. Os nossos órgãos de “informação” tão só trataram de, pressurosamente, isolar uma citação feita pelo Papa em tom crítico, fazendo dela o conteúdo ideológico do discurso.
Eu próprio, ao ver as primeiras notícias sobre o assunto, achei estúpido, ilógico, irracional e imprudente que o Papa se tivesse pronunciado como eu era “informado” que o tinha feito.
Afinal, toda, mas toda a “informação” veiculada pela televisão e pela imprensa era falsa e manipulada de acordo com os interesses da barbárie.
Aos poucos, as coisas foram-se clarificando. Só faltaria acontecer o que não vai acontecer: o público pedido de desculpas por parte das RTP’s e quejandos, necessáriamente acompanhado dos respectivos pedidos de demissão dos seus excelentíssimos e intocáveis directores.
António Borges de Carvalho