SERÁ O GOVERNO UM RESÍDUO PERIGOSO?
É evidente que esta história da co-incineração não passa de mais uma estúpida teimosia do senhor Pinto de Sousa. Não, não estou a defender os ecologistas, nem os manuéis alegres, nem outros frenéticos demagogos.
O problema põe-se assim: no tempo do senhor Guterres, o senhor Pinto de Sousa, como ministro do ambiente, lançou a co-incineração, motivando a fúria das massas eco-bacocas por todo o país. O PSD do senhor Barroso, na vertigem do contra, alinhou com tais massas. À altura, cheguei ao ponto de escrever ao senhor Barroso, dizendo que uma solução para o problema dos resíduos perigosos era urgentíssima e que o óptimo era inimigo do bom. O senhor Barroso, como era de esperar, não ligou meia às minhas opiniões, e continuou a opor-se. Tenho, no entanto, que lhe tirar o chapéu. O seu governo inventou outra solução, a qual fazia o mesmo serviço sem suscitar ofensas às sensibilidades do costume. Não teve o PSD tempo de a pôr em prática: o senhor Barroso deu o fora, o senhor Santana Lopes foi vergonhosamente corrido por um vergonhoso golpe de estado.
Seria de esperar que, usando bom senso em vez de estúpida teimosia, o senhor Pinto de Sousa adoptasse a solução Barroso. Acabar-se-iam as providências cautelares, o frenesi dos ecologistas, as festas populares em Souselas, os setubalões aos gritos, etc.
Mas a teimosia foi mais forte. Chegado ao poder, vai de ressuscitar a co-incineração. Resultado: passaram mais três anos com os resíduos a acumular-se até que a coisa passasse no tribunal, sendo que ainda pode haver recursos e mais delongas em que os eco-bacocos são especialistas, e tudo pode voltar para trás.
Não interessa. Ao coiso, o que apetece é fazer pirraça. É mais forte que ele. Que se lixe o pagode, as conveniências, os interesses colectivos. O coiso bate com o punho fechado na mão aberta, e diz: bem feita bem feita, bem feita!
Se o homem se não realizasse à nossa custa, ninguém tinha nada com isso.
António Borges de Carvalho