HOMENS E BICHOS
Quando o Senhor Dom Carlos I caiu, no Terreiro do Paço, sob as balas assassinas dos terroristas que haviam de dominar a I República, caiu com ele a História de um país e a dignidade de um povo.
Daí para cá, a História foi torcida e falseada pelos seus algozes. O regime que Dom Carlos encabeçava durou, como bem sublinha Rui Ramos, “mais do que qualquer outro nos últimos duzentos anos, e assegurou a mais longa época de liberdade e pluralismo. Eis o que Dom Carlos representa.”
Nada disto, porém, interessou aos assassinos, nem interessa aos seus descendentes morais. Hoje, num jornal, um tipo que costumava usar cabelo à menina de Odivelas, em representação do Bloco de Esquerda, insurge-se contra o facto de haver unidades do Exército a participar na homenagem a Dom Carlos, nos cem anos do regicídio. Ou seja, na abalizada opinião do fulano, o Exército não pode participar em homenagens a nada que não seja republicano, mesmo tratando-se de um Homem e de um Chefe de Estado que corporizou tudo aquilo que, eventualmente, pudesse ter havido de nobre nos ideais republicanos. Na opinião do fulano, por este andar, o Exército não deve participar em homenagens a Dom Afonso Henriques, Dom João II ou Dom Pedro IV, por exemplo, pela simples razão de se tratar de Reis de Portugal.
O homem, pelos vistos falto de argumentos, esgrime com a estafada história dos adiantamentos à Casa Real, arma de arremesso de terroristas, de frequentadores de alfurjas e de energúmenos políticos. Gostava que alguém fizesse as contas, e comparasse, mutatis mutandis, o que custaram ao país esses adiantamentos e quanto custa o sustento de palácios e monumentos confiscados à Casa Real, mais as legiões de funcionários que os enxameiam, mais as despesas do orçamento das Casas do Presidente da República, mais os aviões de “transportes de dignitários”, mais o que ao Rei competia e que hoje é despesa do Estado. Não é preciso ser muito esperto para perceber quem sai mais caro à Nação.
Vá lá, o homem não chama “ditadura” ao período do João Franco. Chapeau. Chama-lhe “aventura autoritária”, o que é substancialmente diferente e quer dizer que o tipo já percebeu que não houve ditadura nenhuma, mas uma tentativa de reorganização do sistema constitucional – que funcionava mal – e da sua recondução, em melhores condições, à vida democrática e ao sistema partidário. Percebeu, mas não confessa, o que é típico da “historiografia” republicana.
Os republicanos já perceberam a colossal desgraça que a República foi para Portugal. Não o confessam, a bem dos seus espantalhos ideológicos e a mal da História do país. Dom Carlos foi, na abalizada opinião deste “historiador”, “um dos mais odiados e impopulares soberanos do constitucionalismo monárquico”. É capaz de ser verdade, se considerarmos como representantes da Nação os assassinos, os carbonários e quejandos que, para satisfação de ambições de poder, concentraram o seu ódio num Rei bem intencionado, patriota, culto, admirado em toda a Europa, diplomata excelso, que soube enfrentar com a maior das dignidades o ambiente pulha do seu tempo, ao ponto de, num acto fatal, ter tido a coragem de dar o peito às balas.
Sobre o seu cadáver construiu-se um regime de ódio, de desrespeito absoluto por aquilo a que, hoje, se chama “direitos humanos”, de violência, de entrega dos destinos da política a bombistas e assassinos.
Já devia ser tempo de Portugal, a começar pelo Presidente da República, prestar homenagem ao Grande Português que foi o Senhor Dom Carlos, e de começar a fazer História com alguma dignidade, alguma seriedade e alguma verdade à mistura.
Que fique registado o ódio do Bloco de Esquerda ao Senhor Dom Carlos, para que se relembre quais foram os sentimentos que geraram a República Portuguesa, sustentada, primeiro pela mais rasca das violências, depois pela censura e pela polícia política.
António Borges de Carvalho