EXÍLIOS DE GENTE BEM
Dois desgraçadinhos, coitados, condenados ao exílio, andam para aí a esbracejar.
Um, foi deportado para Londres onde exerce bem pagas funções num poderoso banco.
Outro, foi degredado para Paris, cidade miserável e desinteressante, onde pratica a diplomacia, no modesto e mal pago métier de embaixador.
Ambos têm, em relação à Pátria, justas queixas, dedicando-se a dizer mal dela sempre que por aí aparecem e são recebidos com honras de estado pelos chamados órgãos de informação, a que alguns chamam media, e que os analfabetos tratam por mídia.
Um, esperneia por causa do aeroporto, e diz que foi maltratado porque tinha os melhores projectos do mundo para acabar com a corrupção. Foram, aliás, os corruptos que por aí abundam quem o mandou, coitadinho, para Londres. E ele, coitadinho, teve que aceitar.
O outro, com a prestimosa ajuda do bastonário dos advogados, tece justificadas queixas pelo mal que lhe fizeram, e grita que é preciso virar (mais) à esquerda. Xiça!
Se o Irritado fosse de esquerda eram capazes de o exilar em Nova Iorque, com apartamento com vista para o Central Park, cozinheira, criado de mesa, criada de fora, footman, mordomo, motorista, duas secretárias boazonas, dois assessores diplomados em Yale e um adjunto para fazer o trabalho, Cadillac De Ville, ajudas de custo, despezas de representação e água das pedras canalizada.
De vez em quando, garanto, viria a Lisboa mandar umas bocas sobre o estado da piolheira. E seria incensado pelos mídia como grande herói injustiçado.
António Borges de Carvalho