A CHANTAGEM RESULTOU
Depois de cinco meses de “chantagem geo-estratégica”, o Tripas conseguiu, finalmente, mais um monumental balão de oxigénio. Brandiu o seu amigo Putin, mais o chinês do Pireu, aos olhos de todos. Deixou, via ameaças e insultos, que se instalasse na Europa o medo do grexit. Chantageou toda a gente das mais rebuscadas maneiras. Mas o Putin foi mais cauteloso do que estaria nos triposos cálculos. Os chineses ficaram com o Pireu, e nem mais um chavo.
A Europa resistiu como uma leoa. Por palavras cruas, digamos que não deixou que a sodomizassem.
Mas foi pouco. A virtual estabilidade do euro, o putativo equilíbrio dos Balcãs, o terrorismo islâmico, os avanços da Rússia, a parceria na OTAN, acabaram por pesar nas contas europeias. Mas foi preciso, primeiro, pôr o Tripas a pão e laranjas, infelizmente com gravíssimos custos sociais. Entre a espada e a parede, o homem teve que abjurar das suas tresloucadas ideias e meter na gaveta as suas posições teóricas. Mas, no essencial – o dinheirinho – a chantagem resultou.
Uma meia derrota para as duas partes. Vai sair caro a ambas. O Tripas, se paga hoje com o que lhe emprestaram, não vai pagar amanhã. Os outros adiaram o problema e têm que pensar como vão comprar um novo adiamento da hecatombe final.
Reformas do Estado na Grécia? Não brinquemos. Os contribuintes que não contribuem, o evidente gigantismo da economia paralela, os vícios históricos das contas marteladas, os 50 motoristas por cada automóvel do Estado, as centenas de milhar de pessoas reformadas antes de tempo, as pessoas com mais de cento e vinte anos que continuam reformadas sem que haja registo dos óbitos, as famílias que recebem quatro ou cinco pensões sem direito a mais do que uma, as meninas e senhoras, filhas de funcionários públicos mortos, que custam, via “pensões”, uns 550 milhões por ano, os aparelhos médicos que custaram 400 vezes mais que no Reino Unido, as 600 categorias de empregados de alto risco, como os cabeleireiros, os músicos de instrumentos de sopro, os apresentadores de televisão et alia, tudo minha gente reformado aos 50 anos, a multidão de departamentos públicos que não servem para nada, as 300 empresas públicas criadas só nos últimos 10 anos, um lago seco desde 1930 que ainda emprega 1763 funcionários para a sua conservação, os 25% de cidadãos empregados do Estado, um quarto dos activos, o salário médio dos trabalhadores dos caminhos de ferro do Estado de mais de 5.500 euros por mês, o metro de Atenas a facturar 90 milhões por ano e a custar 500, as reformas de 96% do último salário, (51% em França, 40% na Alemanha, 41% nos EUA, 31% no Japão...), o número de professores gregos 4 vezes o da Finlândia, e dos melhor pagos da Europa, etc.., nunca mais acaba.
Não é preciso pensar muito para não acreditar em nenhuma reforma do Estado grego poderá acabar com isto. Nem a Europa nem o Tripas acreditam nisso, nem no pagamento da dívida, nem têm a menor dose de confiança mútua, e toda a gente sabe que o problema está para ficar, só que com um acrescento de 80.000.000.000 a somar ao buraco.
O sistema europeu tem que ser alterado? Talvez. O problema é saber como. Mas não será, com certeza, com a contribuição dos novos nacionalistas da extrema esquerda e da extrema direita, bem unidos, solidários, populistas e mentirosos.
Por cá, basta ouvir e ver as miúdas do BE e o parvo do Livre, privilegiadíssimos com tempo de antena e páginas de jornais, todos os dias e a todas as horas (somemos-lhes um PS nefelibata e meio syrísico) para imaginar a que cavernas de paranóia nos arriscaríamos se caíssemos nas suas esparrelas.
15.7.15