A MENINA GRETA
Nas salsas ondas do Atlântico navega, em veleiro de luxo, a menina Greta. Nas plagas do Restelo amontoam-se multidões para a saudar com o entusiasmo próprio das grandes massas humanas. Desde o regresso do Cabral e do Gama, não se via tal coisa. No Parlamento preparam-se brocados e ensaiam menestréis, limpam-se os vermelhos tapetes, engravatam-se os deputados. Jornalistas, fotógrafos, operadores de câmara afinam suas tecnológias parafrenálias, a fim de que nada falhe. O senhor de Belém, os condotieris de São Bento, todos preparam os seus discursos, as devidas recepções, os elogios, as vénias, a ver quem mais e melhor celebra a histórica visita.
A menina Greta, prudentemente acompanhada por áulicos creditados, por psiquiatras e psicólogos, virá, qual papisa de astronómicas hecatombes, repetir pela milionésima vez o seu discurso, feito de ameaças, desgraças e trapaças, exibirá a sua verve acusadora, o seu desgosto pelo comportamento da humanidade. Discurso bíblico, a lembrar os avisos divinos que levaram à queda de Sodoma e Gomorra.
O povo lá estará, comandado por outras meninas e meninos, por políticos e filósofos, por professores e cientistas, todos irmanados na nesma fé e dominados pela inquebrantável palavra que a apóstola, mais uma vez, lhes comunicará com o seu tresloucado e acusador olhar. Depois, ficará tudo na mesma, ou pior.
É assim a vida. Mais vale ter graça que ser engraçado.
30.11.19