A QUESTÃO GREGA
Uma história:
A Academia das ciências da Índia, desejosa de valorizar o seu património natural, resolveu convidar algumas congéneres para fazer um ensaio sob o Tema “Elefentes”.
Algumas respostas ao convite:
Os franceses apresentaram um dossier intitulado “Les éléfants et la bataille d'Indochine”;
Os ingleses enviaram um estudo subordinado ao tema: “The elephant and the British Empire”;
Os portugueses debruçaram-se sobre “Os elefantes e o Senhor Dom Manuel I”;
Os espanhóis não mandaram nada, porque não perceberam a pergunta:
Os alemães contribuiram com uma obra em 14 volumes intitulada: “Algehmeineelephantenlehre”;
Os polacos deram à estampa um volume com o título “Os elefantes e a questão polaca”.
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Estamos hoje, mais ridículos que os polacos da anedota, reduzidos à “questão grega”. A questão grega mobiliza as gentes, ou melhor, imobiliza as gentes. A intensa propaganda da esquerda tem base em dois argumentos fundamentais: o primeiro é que a Grécia tem que ser ajudada nos termos que entender, o segundo é não se poder “abandonar o berço da democracia”. Começando por este, direi uma coisa absolutamente incorrecta: não sei se a democracia ateniense pode ser chamada “mãe” da actual. Estou em crer que não. Mas o argumento é equivalente a dizer que Portugal tem que ser ajudado porque o Vasco da Gama foi à Índia ou porque o cante alentejano é património de uma coisa qualquer. Poupem-nos aos argumentos históricos: absurdos e, se falássemos de história não sei onde iria parar a argumentação. O segundo é que quem determina o como, o quanto e o quando da nova ajuda é o Syriza, não quem abre os cordões à bolsa. Porque o Sytiza foi eleito e é essa a vontade da maioria do povo. Não é bem assim. O Syriza e os fascistas que o apoiam não são a Grécia, a Grécia já existia antes deles e, como tal, tinha feito acordos, contraído empréstimos, tomado compromissos, subscrito tratados. Mal ou bem, o Syriza herdou tudo isso, está obrigado por tudo isso. E se nada cumpriu, se nada reformou, se nada pagou e, ainda por cima, se levou com dois resgates, um perdão de mais de cem mil milhões e juros de brincadeira e carências a la manière, com que direito quer agora mais privilégios?
Diz-nos o cinismo político (sem cinismo não há política) que a moral, a palavra, o compromisso escrito e outras parvoíces não fazem parte da diplomacia. Talvez seja verdade. Mas há limites.
Parece que hoje, 16 de Fevereiro, o Syriza e os seus amigos fascistas recusaram todas as propostas da União. Estarão a meter a União numa camisa de onze varas? Talvez.
Mas o problema não é deitar a Grécia (o Syriza) pela borda fora, que cá nos havíamos de aguentar. É o de passar a Grécia para os carinhosos braços do senhor Putin, coisa que o Syriza prepara cuidadosamente. A União não pode, não deve, sob pena de total descrédito, amochar às estúpidas exigências do Syriza.
Solução? Parece que o senhor Obama está muito sensível à “questão grega”. Se assim é, ele que se disponibilize, precedendo um acordo qualquer com a União que, salvaguardando o interesse estratégico de todos e alivie a Europa do pesadelo grego, ou syriziano.
Mais troça, mais pesporrência, mais recursos a sentimentalismo baratos e a soluções que nada solucionam, mais fraldas de fora? Isso é que não!
16.2.15
António Borges de Carvalho