ABUTROLOGIA
Os abutres, os propriamente ditos, têm por gostoso hábito deliciar-se com cadáveres sem ter contribuído para a morte dos donos da carcaça. Comem-nos já faisandés. É a sua natureza, ou a Natureza fê-los assim.
Na espécie humana fia mais fino.
Há os que esperam calmamente, vêm morrer as presas e vão, respeitosos, ao funeral; depois, fornecem o prato e o talher a terceiros para que estes lhes encham o prato com os despojos.
Outra variedade taxionómica prefere contribuir para a morte do jantar, a fim de vir a devorar a presa ainda quentinha.
Temos vindo a assistir a manifestações públicas desta última variante, tanto da parte de um abutre de alto coturno, como de um outro, mais contido, mas não menos esfomeado, e filho espiritual de uma “abutra” já sem direito a apetites de maior.
O primeiro – Morais Sarmento – começa por dar de barato que Passos Coelho tem os dias contados. Depois, “quando Costa for PM” (!), põe-se à disposição do partido para se fazer ao bife. Exemplar.
O segundo – não me ocorre o nome – é um rapazito simpático que tem por hábito dar uma no cravo, outra na ferradura, hesitando entre o que está e as teorias vampirescas da sua directora espiritual - dona Manuela. Também se declara, humildemente, a postos para vir a ser chefe. Uma ternura de rapaz.
Ambos esperam, ou desejam, que o partido a que pertencem perca as eleições, o que não está garantido, e que, na sequência da derrota, Passos se vá embora, o que também é futurologia a mais.
Sem fazer prognósticos, fica a certeza da qualidade moral e política de um e do outro.
28.3.15