ACORDAR MAL E A MÁS HORAS
Durante mais de três anos, como toda a gente sabe e comenta, o PS “ignorou” o caso Sócrates. A primeira vez que o inacreditável Costa se referiu ao assunto foi para dizer que o seu bem amado antecessor tinha o “direito de dizer a sua verdade”. Foi um fogacho. O silêncio voltou, Sócrates ou nunca existiu ou as “verdades” que já tinha bolsado não chegavam para o condenar. Não chegava confessar que vivera, ou vivia, há anos, à grande e à francesa à custa de terceiros, não chegava confessar que trabalhar era a última coisa que lhe ocorria, não chegava confessar que tinha empregos fictícios, pagos sem fazer a ponta de um chanfalho. A “sua verdade”, nas palavras cínicas e desonestas do Costa, estava por contar. Não estava. A “sua vesdade” estava dita e redita pelo próprio, não era preciso nenhum processo judicial para as pessoas perceberem que Sócrates é um bandalho indigno e trambiqueiro. Mas Costa veio dizer que nada disso era importante, o que era importante era a “verdade” que contaria aos procuradores do MP!
Como parêntessis, eis uma história engraçada:
Dom Diogo Lafões publicou um interessante livro sobre arte equestre, na senda do seu ilustre antepassado Marquês de Marialva, estribeiro-mor de Dom José. Um dia, um amigo disse-lhe: “Comprei o teu livro”. Ao que Dom Diogo respondeu: “Ah! Foste tu!”. Eis a bem humorada e modesta resposta de um Senhor, que não morreu com ele, fica aí como exemplo.
No outro extremo, o Sócrates publicou um livro sobre inanidades várias, ao que consta escrito por outra passoa. Como, apesar da frenética propaganda que envolveu o feito, parecia evidente que ninguém, nem os amigos, compraria a coisa, Sócrates formou um exército que andou pelas livrarias a comprá-la aos milhares. Costa não deu por nada, estava, coitadinho, à espera das “verdades”.
Moral da história: é evidente a diferença entre um Senhor, um merdoso canalhete e um político sem espinha.
Voltando aos factos. O caso Pinho teve, por obra e graça de Rui Rio, a virtualidade de “acordar” o PS e a restante mesnada da geringonça. De repente, out of nowhere, desataram todos aos gritos. Sócrates e Pinho passaram a ser “uma vergonha”, ou seja, uma maçada, um fait divers, uma chatice. Alguma razão assiste ao Pinho que parece que se diz bode expiatório destinado a encobrir o chefe Sócrates.
Mas, depois das estúpidas declarações do César (que outra coisa se esperaria?) e do trombone do Galamba, caramba!, veio de novo o Costa pôr os pontos nos is. Das frias plagas do Canadá, comunicou-nos a sua estrambólica opinião. Assim “se as suspeitas se confirmarem”, o caso Sócrates será “uma desonra”. E acrescentou o habitual: “Ninguém está acima da Lei”. Uma nobre verdade transformada num chavão sem sentido!
Daqui se conclui que Costa continua a não dar nem ter dado por nada, a nunca ter ouvido o que Sócrates diz de si próprio, a não saber que vivia, ou vive, à pendura de terceiros, que foi político “por vaidade”, não por vocação ou serviço, que mandou fingir que vendia livros, que arranjou empregos fictícios, que, que, que. Nada, Costa não deu por nada, não viu, não ouviu, não leu, não sabe, está “acima” dessas coisas que por aí se dizem, acima das desonrosas declarações e confissões do seu querido ex-chefe.
E é gente desta que nos governa. E que continua a ser objecto dos afectos lá de cima.
PS - (não confundir com Partido Socialista) - Já este post estava escrito quando dei com mais uma das vergonhosas características das declarações de Costa. Diz ele que, se se vier a confirmar as acusações contra Sócrates (não chega o que está confirmado!) será "uma desonra para a democracia". Mentira. será uma desonra para o PS. Seria bom, ou honesto, não meter a Democracia no saco de Sócrates.
4.5.18