ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
O caso das gémeas de dez anos que nunca foram à escola e vivem rodeadas de piolhos, baratas e similares é a demonstração clara de como funciona a administração pública. Há seis anos que o caso é oficialmente conhecido. Por razões mais ou menos obscuras, veio agora para a praça pública.
E assistimos ao habitual funcionamento da coisa pública. Quem trata do assunto? Uma data de gente: a polícia, a protecção de menores, a PGA, os tribunais... Pelo menos, dizem, há umas sete instâncias responsáveis por casos destes. Então, quem é responsável? Ninguém, é a resposta certa. O emaranhado de burocracias em vigor, regulamentos, competências, estatutos, minudências e maxidências de toda a ordem acabam por estabelecer, sem margem para dúvidas, que todos cumpriram religiosamente o que mandam as NEP’s. A culpa, o falhanço, a incompetência, diz o A, pode ser do B, do C, do D, e por aí fora. O B, o C, o D, etc., dizem o mesmo, com o cuidado e o objectivo de tirar o cavalo da chuva. Todos têm a sua razão, todos, com base nas competências institucionais que lhes estão atribuídas e nos regulamentos oficiais que informam a sua (in)acção.
Isto, no caso das pobres rapariguinhas. Mas é assim em tudo, ou quase. Para cada caso, dos mais simples aos mais complicados, a selva burocrática é a mesma. A nacional burocracia cria os mais rebuscados sistemas para limitar as iniciativas de cada um, há sempre uma variedade infindável de “competentes” para tratar de tudo, ou de um bocadinho de tudo. E todos arranjam forma de cortar as pernas ao cidadão, para mostrar serviço, para justificar o que ganham, para dar a cada funcionário o poder de infernizar a vida de cada um.
É assim que que se justificam os burocratas, é assim que ganham a sua vida. E, quando se vive num regime cujo objectivo geral e primacial é a de sustentar a burocracia, a coisa atinge os seus píncaros.
Anime-se. A geringonça já prometeu cinquenta e duas vezes que vai “reformar” a admninistração pública. Você, se for, pelo menos, parvo, até é capaz de acreditar.
29.8.19