AEROPROGNÓSTICOS
Finalmente, 61% da TAP foram privatizados! Já não era sem tempo.
Agora... façamos uns prognósticos.
Se a miríade de “instâncias” que ainda vai, doutamente, pronunciar-se sobre o assunto (umas entidades que andam por aí a ganhar o seu, mais umas centenas de burocratas de Bruxelas, mais não sei quantos juízes assoberbados de providências cautelares e outras martingalas), aprovarem a coisa, que se passa a seguir?
Prognóstico: o PS, que, como os seus inúmeros parceiros e parceiras, apostava na patriótica propriedade da companhia, entrará em polvorosa, fará inflamados discursos e reproclamará as suas “propostas”, todas conducentes ao emagrecimento da TAP ou – o mais provável – à sua rápida falência. Outros, reeditarão as suas abstrusas convicções estatistas, dirão que o “povo” ficou sem a TAP, “precioso e estratégico instrumento de soberania” e de outras salvíficas quão ultrapassadas “qualidades”. Um tal Vasconcelos, dito “cineasta”, tremebundo e meio caquético, clamará, à boa maneira da extrema direita e da esquerda radical, que o nosso “orgulho” foi ofendido, que a “dignidade da Pátria” foi posta em causa, que nunca mais se sentará num dos “seus” aviões, e mais não sei quantas patacoadas que já não há muito quem ature. Os já citados, intelectualmente suportados pela nacional filosofia do Boaventura, do Gil, do Viriato, do Arménio e dos editores do Avante!, e coadjuvados pelas primárias almas do BE (actuais e ex) e nas demais e usuais capelinhas do esquerdismo nacionalista, lamentarão o sucedido e farão vigílias de protesto e luto, de preferência à noite e no Bairro Alto, garantindo que, com eles, tudo voltará para trás e que, em luminoso futuro (quando eles mandarem), tudo voltará aos eixos, não sendo este passo atrás mais do que o anúncio de muitos que se darão em frente. E o luto se transformará em festa, esperança e glória.
E se as “instâncias” não aprovarem a coisa, e a coisa tiver que voltar para trás?
Prognóstico: o PS organizará um festivo simpósio subordinado ao tema “falidos mas felizes” ou “o glorioso caminho da inviabilidade geral”. A dona Catarina Martins dançará a polca com o triste careca da organização, entre foguetes e charamelas, com vodka e sardinhas assadas em bar aberto. O Tavares mau e a dona Ana Drago, com a colaboração da outra Ana (a Dias, amiga do Soares), lançarão uma "iniciativa cidadã” destinada a demonstrar à Grei a evidente falência das “companhias de bandeira”, tais a British, a Lufthansa, a Air France, a Ibéria e tantas outras que, via privatização, entraram em veloz bancarrota e roubaram aos seus países doses industriais de “orgulho nacional”, bem como o susesso estrondoso das companhias estatais, de que são exemplo a Sabena e a Swissair.
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Se a coisa for aprovada, das duas uma: ou tem sucesso, ou não tem. Prognóstico:
Se tem, a alcateia dirá que os lucros foram para os accionistas, não para o povo, o qual, até à privatização, como é sabido, ganhava fortunas com a TAP. Os impostos que a TAP e os tais accionistas pagarão não interessam, são peanuts se comparados com os já mencionados ganhos do povo. O Estado ficará privado de uma unidade “estratégica” de grande importância para si próprio, na sua inestimável qualidade de dono disto tudo, povo incluído.
Se não tem, a chusma clamará: nós não dizíamos? Grande triunfo para o povo, na sua cruzada contra o neoliberalismo e o capitalismo de casino (PS+Tavares mau+Anas+Soares), ou o capitalismo tout court e a propriedade privada (os outros). Razões para comemorar, já que tudo o que corra mal é bemvindo.
Como se vê, e prevê, a esquerda, seja ela “moderada”, caviar, folclórica, intelectual, marxista-leninista, maoista, enverhoxista, tachista, ou o que quiserem, acabará sempre por ganhar. Já o homem da banha da cobra dizia o mesmo.
Só não se sabe o que dirá o Màrinho.
25.6.15