ALGO DE NOVO
Não sei se com alegria se com tristeza, o 44 viu-se corrido das primeiras páginas. A saga entediante dos bichos-careta da informação sobre a sua distinta personalidade levou com a rolha do Ricardo Salgado. Agora, o que está a dar é o antigo DDT e o seu bem-amado primo. Quem terá razão? Não falta quem opine, desopine, teça considerações da mais diversa ordem, se entretenha a ajuizar, quem mentiu, quem não mentiu, quem tem ou não tem razão. Provavelmente mentiram os dois, disseram os dois a verdade, têm razão os dois, nem um nem outro a tem. O IRRITADO não faz ideia, não percebe nada, não se mete nestes sarilhos.
Um paralelo e uma diferença.
Paralelo: talvez não por acaso, o caso do Salgado é da família do do 44. Fazem os dois o mesmo tipo de discurso. Ambos são, na opinião própria, umas angélicas criaturas perseguidas por alcateias de lobos esfaimados. As culpas, a havê-las, são do governo, dos polícias, dos políticos intriguistas, da mulher da limpeza, das cabalas, dos astros.
Parece que ambos cairam na cama que fizeram. Não por acaso eram parceiros em tanta coisa, e tanta coisa lhes caiu em cima. Unidos na glória, unidos na desgraça.
Diferença: a dos tempos. Antes, o governo do 44 e sua gente dedicava-se a ir a correr, com o nosso dinheirinho, apagar os fogos que outros atearam. Tal caríssima fantochada parece ter os dias contados. Quem paga? Resposta: quem arriscou em “produtos tóxicos”, como acções/obrigações do BES. É dos livros que quem não arrisca não petisca. Mas também o é que quem arrisca, arrisca. Desta, quem não arriscou, safou-se. Quem arriscou lixou-se. C’est la vie. Mesmo que os demais venham a pagar, será alguma coisinha, não milhares de milhões. É a diferença.
Outra diferença: a que há entre um governo que se metia em tudo e outro que procura só se meter onde é chamado - mesmo assim, na opinião do IRRITADO, que é um ultraneohiperliberal, ainda se mete em muitas em que se não devia meter.
Outra ainda: as autoridades judiciais davam cobertura a tudo e mais alguma coisa, queimavam provas, arquivavam o que conviesse a um governo metediço. Isso também acabou.
Ficará para um futuro longínquo saber se Salgado e/ou Ricciardi são uns anjos ou uns demónios, ou nem uma coisa nem outra. Para já, engalfinhem-se como entenderem, que é do que a malta gosta. Pelo menos até que outra bronca qualquer dê de comer a quem vive destas coisas. Antes isto que a casa dos segredos, xiça!
Que tenham as boas-festas que merecem.
11.12.14
António Borges de Carvalho