AMIGOS DE PENICHE
AMIGOS DE PENICHE
NP. Um post com este nome foi aqui publicado, julgo que anteontem. As incapacidades informáticas do autor fizeram com que desaparecesse sem deixar rasto. Queria editar (emendar ou melhorar, em português arcaico) o texto e apaguei-o! Recebi críticas por isso, de quem acha que foi de propósito. Tento aqui reescrevê-lo, ainda não me apeteça nem esteja para tal inspirado. Só para que não me chamem nomes.
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Anda para aí um sururu dos diabos por causa da ideia de transformar o Forte de Peniche num hotel, ou coisa que o valha. Vozes indignadas se erguem: não se pode apagar a memória, lavar o fascismo, e outras parvoíces de mesmo cariz.
Vários equívocos fazem eco na opinião pública.
O primeiro é o de fazer crer que os presos de Peniche (os do PC, porque os demais não interessam) foram presos por lutar pela liberdade, coisa que jamais fizeram, ou fazem. O PC lutava pela instauração revolucionária de uma ditadura muito mais feroz que a da II República. Para quem já não se lembra, o “Avante!” clandestino desses tempos condenou sistematicamente toda e qualquer tentativa de democratização da república, classificando-as de manobras da burguesia levadas por diante por servos do imperialismo, golpistas a soldo e coisas do género. Há até quem diga que houve tentativas que foram abortadas por denúncia do PC, coisa que, ainda que não provada, tem foros de verdade. A PIDE e o PC eram duas faces da mesma moeda, alimentavam-se e justificavam-se mutuamente.
Outro equívoco é o de julgar que tal prisão foi um exclusivo da II República. A primeira já praticava o mesmo desporto. Por lá passaram famílias alemãs cá residentes, sem acusação, culpa formada ou julgamento, tão só culpadas... de ser alemãs. Funcionou como Depósito de Súbditos Inimigos ou Campo de Concentração de Peniche. O procedimento era, aliás, comum entre os “democratas” da I República, especialistas em encarcerar inimigos políticos, activistas sindicais, tudo o que desagradasse às facções que se revesavam no poder.
Também se propagandeia outro equívoco. O da viabilidade, ou valia social e cultural da preservação de uma prisão enquanto tal, coisa que, além do mais, está totalmente fora de moda. Não tem nem viabilidade económica nem valia cultural. Tê-las-há se, recuperado o património construído, se lhe der outro destino.
O Forte de Peniche, no que respeita a ocupação prisional, é coisa a remeter aos livros de História, ainda que a história que por aí veceja seja o que é, em termos de independência investigatória e honestidade intelectual. Leia-se nos livros a memória ou as memórias do que lá se passou, em vez de conservar a construção como uma espécie de catedral dos santinhos do PC.
21.12.16