ANIMAIS SIMPÁTICOS, HUMANO ESTERCO
Gosto de andar na relva. Todos os dias, saio de casa e vou até à relva lá à porta, aos saltinhos. Sim, aos saltinhos. Não porque goste de andar aos saltinhos, mas para não apanhar com um cagalhão de cão na sola do sapato, ali, à minha espera, primorosamente colocado na relva pelos canídeos dos meus queridos vizinhos. Isto para não falar de odor que produto exala.
Falando de odores, quando das primeiras chuvas, a relva rescende, não a terra molhada mas a mijo de cão. Às vezes, tropeço nas arreatas extensíveis dos canídeos, com uma ponta no pescoço dos ditos, outra na carinhosa mão de um selvagem qualquer.
De noite, não raro acordo com os protestos ladrados por algum simpático animal que se chateou ou cujo dono se atrasou na hora do passeio necessário à pública borrada.
Não, não sou contra os cães, até gosto deles. Sou contra a incivilidade de quem os usa para gáudio próprio e transtorno dos demais. Acho que ter um cão na cidade devia ser objecto de caríssimas licenças, de vigoroso policiamento e de multas astronómicas para quem prevaricasse. Todas as despesas camarárias incorridas em limpezas e desinfecções, respectivo pessoal, etc., deviam ser pagas por tais licenças e tais multas. A Câmara até podia aproveitar para dar mais uns empregos, custos a sustentar pelos donos das cãezinhos, portanto orçamentalmente neutros e socialmente úteis…
O animalesco deputado que se dedica a chatear meio mundo por causa dos cães, ao ponto de pôr pacíficos cidadãos a pagar veterinários e outras parvoíces, devia ficar a falar sozinho em vez de se divertir à custa dos outros. Mas goza da ternurenta protecção da camarilha no poder, que assim lhe vai comprando o voto, quem sabe se com a bênção do CDS e do PR.
Não tenho ilusões. Ou deixo de gozar a relva, ou continuo aos pulinhos. Ou passo a gostar de ouvir os animais a protestar ou continuo a irritar-me com cães a ladrar às três da manhã. Ou arranjo chatices com os selvagens, ou meto a viola no saco.
E a vida continua, entregue aos bichos.
26.3.16