AS CAUSAS DAS CONSEQUÊNCIAS
Pensando mais uma vez no incêndio, acrescento:
Por mais voltas que se dê, por mais teorias que se invente, por mais razões que se aduza, por menos politização que se aplique, duma coisa não restam dúvidas: o número de mortos é inaceitável.
Quem está no poder devia assumi-lo, retirando-se envergonhado. Mas a vergonha, como é patente, não faz parte da cartilha dos sucessores do senhor Pinto de Sousa, dito engenheiro Sócrates, a começar pelo seu número dois, cúmplice político de todas as horas, hoje conhecido por primeiro-ministro, e a continuar na chusma deles que continua a dizer que governa, também eles sem assumir a bancarrota, e não só, de que são próximos ou afastados autores e co-responsáveis.
Com inquéritos ou sem eles, com reformas ou sem elas, com acções imediatas, mediatas ou imaginadas ou sem elas, o governante mor devia cair, usando a dignidade que lhe resta, e levar os demais consigo. Continuar a dizer que tem todo o direito a governar sentado sobre sessenta e quatro cadáveres, é tão inaceitável como a morte deles.
Não colhe a palermice dos jornalistas que se atiram às canelas da chamada ministra dos fogos, coitada da rapariguita, a perguntar-lhe se se demite. Não colhe a repugnante ordinarice política de um chamado ministro das florestas. Não colhe a doçura das reacções do BE e do PC, outrora tão virulentos. Não colhe a branqueadora filosofia de cordel do Presidente da República.
Há momentos fatais na vida dos políticos. Mais uma vez, se vergonha houvesse seria preciso aceitá-los e às suas consequências. Mas parece que em Portugal as consequências são mais inacetáveis que as causas.
24.6.17