BONS SERVIÇOS
Uma pessoa que eu conheço, reformada (contributiva!) com trezentos e tal euros por mês, 70 anos, arranjou um trinta e um com um dente: inchou-lhe a cara tipo bola de raguebi, dores horríveis, etc. Desesparada (não tenho dinheiro para dentistas!) viu a coisa agravar-se. Meti uma cunha a um dentista que conheço. O homem pôs as mãos na cabeça, fez-lhe um buraco não sei onde, extraiu porcaria em quantidades industriais, receitou um antibiótico violento, e fez um pedido de exame para uma radiografia à boca no SNS. Cumpri a minha parte no que ao antibiótico dizia respeito, coisa aliás barata.
Dois dias depois, a pessoa contou-me que esteve dois dias inteirinhos no hospital Amadora/Sintra e... radiografia nem vê-la. De lá veio com o rabo entre as pernas. Contou-me mais, sobre a multidão (no segundo dia estavam lá os mesmos da véspera...), a falta de médicos, isto e aquilo, toda a gente sabe.
Não estou a gabar-me da ajuda, coisa que qualquer um faria. O que me traz é pedir a quem lê que faça um pequeno exercício de imaginação.
Imaginem o que aconteceria, em 2015, perante uma situação deste tipo: as televisões estariam em peso no local, a fim de entrevistar a bola de raguebi e receber, com a devida honra, figuras e figurões dos sindicatos, a dona Catarina, um gajo do PC, uma manifestação da CGTP, mais desgraçados entrevistados, a barulheira duraria pelo menos três dias. À noite haveria debates, todos concordantes em que o que se passava era a destruição do SNS por razões ideológicas, era o governo a ir além da troica, era o diabo a quatro.
Imaginem agora que o hospital tinha gestão privada. A bernarda seria ainda maior, e muito mais fácil, porque havia um bode expiatório mais à mão: na ganância do lucro, os privados, a mando do governo, privavam a Nação do SNS e metiam ao bolso o dinheiro das radiografias sem fazer radiografias. A dona Catarina entrava em delirium, esperneava, vejam as consequências da falta de socialismo revolucionário, o PS e o PC alinhavam, ribombavam as mais violentas aleivosias, etc.. Deve, aliás, ter sido por isso que o tal hospital deixou de ter gestão privada, com os brilhantes resultados que estão à vista de todos mas de que não se fala porque, no firme e triunfante caminho para a ditadura de esquerda, a falta de protesto e, sobretudo, de informação, são um elemento fundamental para ir habituando as pessoas a não ver, não ouvir, não falar.
É a “paz social”, no parecer do Presidente, do chamado governo e dos respectivos acólitos- bengala, ou acólitos-oficiantes.
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Uma “autoridade” qualquer deixou escapar uma classificação (rânquingue, em novilíngua) dos hospitais do SNS, na qual, dos três primeiros, dois são de gestão privada, não sendo possível, nos restantes, chegar à conclusão que os hospitais de gestão pública prestam melhores serviços, e mais baratos, que os de gestão privada.
Além disso – um sinal importante – o Hospital de Cascais, além de bons serviços, custou ao Estado menos 47 milhões do que estava previsto no contrato. Bom serviço, e mais barato. Conclusão do chamado governo: acaba-se com o contrato, lança-se um concurso internacional para nova gestão, sendo de prever que jamais se fará nova adjudicação. Aqui temos o que é estatismo puro e duro. Ou, se quiserem, a doutrina da reversão, seja à custa do que seja. O contrato podia ser objecto de revisão ou renegociação se, aqui e ali, se pudesse obter melhorias hospitalares ou económicas. Não! O objectivo é a afirmação do poder do Estado, mesmo que contra os interesses dos cidadão, como é o caso.
Bons serviços, só os do Estado. Mesmo que sejam piores, e mais caros, que os dos outros, são melhores por definição.
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