BURDEN SHARING
Não me tem parecido valer a pena tecer considerações sobre a eleição de Trump. Está tudo dito, redito e glosado em todos os sentidos e sobre todos os temas, por uma multidão de jornalistas, professores, filósofos, astrólogos, politólogos, etc. etc., à esquerda, à direita e ao centro.
(Não faço futurologia, a não ser sobre os caminhos da geringonça e da palavra dada palavra desonrada.)
Apraz-me, no entanto, fazer um comentário sobre uma matéria que é universalmente considerada como novidade: os desfios, ou provocações, de Trump quanto ao papel dos EUA na defesa da Europa. O homem ribomba que a Europa está encostada à América em termos de defesa e segurança, afirma que ela não passa de um pendura que não gasta dinheiro que se veja nem cuida de si em tais matérias, e diz que não está disposto a deixar continuar tal pendurice. Inquietante novidade!
Não, meus senhores, pode ser inquietante, mas não é novidade nenhuma. Há muitas décadas que os EUA dizem o mesmo. Há muitas décadas que a Europa não investe o que devia em defesa e segurança. À excepção do Reino Unido, a Europa é um tigre de papel. Já Kenedy desafiava a Europa a tornar-se no “pilar europeu da NATO”, exprimindo exactamente o mesmo que Trump, ainda que por palavras mais doces. Esta postura continuou sempre a ser tema a nível diplomático e militar, com maior ou menor intensidade. O chamado burden sharing é tema constante da posição americana em todos os fora de defesa. Trump fala do mesmo (deve ter ouvido algum zumzum...), usando a primitiva brutalidade que o caracteriza e deixando-se de rodriguinhos, pelo menos em termos de campanha eleitoral.
Nada de novo. Tem sido interessante ouvir inúmeros inimigos da NATO, ou seus ferozes críticos, normalmente conotados com a esquerda folclórica, mostrar a sua inquietação, tremer como varas verdes, dizer que a Europa tem que tomar uma atitude e aceitar “novas” responsabilidades por causa da ameaça trumpista. Afinal, é tudo mais do mesmo, do lado americano. Esta malta é que não dá por isso...
12.11.16