CAIR EM GRAÇA
Um dos mais interessantes fenómenos que a geringonça originou foi o do fim da emigração. No tempo do governo legítimo, qualquer enfermeira que embarcasse para o Reino Unido era entrevistada pelas televisões, dava lugar a debates parlamentares, a oposição ribombava indignações, havia protestos na rua. A baixa do desemprego era atribuída à emigração em massa, era tudo culpa do governo, os baixos salários, a drenagem de cérebros, o raio.
Hoje, ninguém vai ao aeroporto filmar despedidas, abraços e lacrimejantes beijinhos, os jornais não falam no assunto. O povo conclui que, graças ao geringoncial milagre, deixou de haver emigração, ainda que os salários continuem baixos, os cérebros não se saibam se foram se ficaram. Nunca mais se passou nada.
Fantástico, não é?
Naquele tempo, um desempregado sem subsídio punha a intersindical na rua, fazia manchetes, editoriais, um clamor universal. Hoje, há mais desempregados sem subsídio que com ele. Tudo normal, tudo feliz, tudo na maior, como dirá o Prof. Marcelo no uso da sua autoridade Presidente erigido em chairman da geringonça.
É verdade que vale mais cair em graça que ser engraçado. Mas também o é que quanto mais alto se sobe de mais alto se cai.
21.4.17