CARÍSSIMA!
Houve uns comentadores desta casa que se rebelaram contra o facto de o IRRITADO não fazer considerações sobre um tal Morgado. Como não fazia ideia de quem ou de que se tratava, fiquei na mesma.
Até que uma das 32 funcionárias da sede social do IRRITADO me disse o que estava em caudsa: o dito Morgado era um secretário de Estado do chamado governo, ao qual uma senhora, alta dirigente de uma organização sem fins lucrativos, tinha atribuído o estatuto de consultor ou coisa que o valha, a fim de lhe pagar 3.000 euros por mês a troco, quando muito, de pôr o ilustre nome do homem no papel timbrado da agremiação. Qual o escândalo? Nenhum. Um nome tão célebre como o do Morgado bem merecia uns tostões.
Alguém pode ser contra isto? Ninguém, a não gente de maus sentimentos e de fraca consciência social.
Facto é que tal gente se pôs a escarafunchar, e escarrapachou por aí que a senhora em apreço, antiga saracoteante modelo e modelar dona de um quiosque, teve um filho com problemas. A criança morreu. A senhora, prenhe de desgosto e de bons sentimentos, tratou de arranjar uma estrutura que tratasse de pessoas com problemas do mesmo tipo. Andou, andou, e fundou uma organização de tal maneira útil e prestigiada que, anos depois, com o patrocínio da Rainha de Espanha, da dona Maria Cavaco, da dona Leonor Beleza e de outras altas figuras da Pátria e da República, se transformou numa instituição digna de todos os encómios, incluindo condecorações presidenciais, presidenciais afectos e presidenciais visitas. A fazenda pública estava dentro com uns milhõezitos, o chamado ministro do trabalho, senhor Silva, tinha lugar nos órgãos sociais da organização, e até lhe dava tanto apoio que mandava a amantíssima esposa à Suécia à conta da respectiva tesouraria. Escândalo? Nenhum.
Mas as pessoas de maus sentimentos escarafuncharam ainda mais. Parece que a benemérita dona da ONG em causa, senhora de indesmentível charme e indiscutível sex appeal, comprava uns vestiditos à conta, comia umas jantaradas, viajava a torto e a direito, ganhava mundos e fundos, tratava-se bem, tinha um beamer dos bons, enfim, meus senhores, levava uma vida de acordo com as NEP’s do estrato socio-político em que verdejava. Como queriam que se apresentasse a presidentes, ministros, rainhas, primeiras damas, banqueiros, etc.? De chinelos? Com as meias rotas? De bicicleta? Que almoçasse no João do Grão? Nem pensar. Escândalo? Não brinquem em serviço.
Só gente muito mal formada, muito odiosa, muito invejosa, pode pensar que a ínclita senhora não estava no pleníssimo direito de utilizar, para seu bem-estar e prestígio, umas verbazitas (diz-se que umas míseras centenas de milhar) maioritariamente provenientes da fazenda pública. Que topete! Afinal, o dinheiro do Estado, como as empresas do Estado, não é de todos, como dizem os tipos da geringonça? Ou, como dizem os irritados, sendo de todos não é de ninguém, não tem dono. Se não tem dono, porque havia a senhora de se privar, ou à família, fosse do que fosse?
Que diabo, isto á a IIIRepública! Haja juízo.
13.12.17