CARMONA RODRIGUES
Em tempos que já lá vão, houve, em Lisboa, dois bons presidentes de câmara: Santana Lopes e Carmona Rodrigues. Havia também uma vereadora que deixou saudades.
Todos foram objecto de perseguição.
O primeiro, porque tinha, para a cidade, ambições incompatíveis com a pequenez mental e com os ódios partidários reinantes. Quis fazer um túnel: foi acusado de tanta coisa que nem vinte posts dariam para descrever. Quis pôr um marco arquitectónico de génio no centro da cidade: um tal Sampaio, mais uns moralistas de pacotilha, cortaram-lhe as pernas, num mar de insultos. Quis dar à cidade uma nova centralidade: caiu-lhe o Carmo e a Trindade em cima.
Carmona Rodrigues, homem sério e competente, sem currículo político, número dois da CML, ficou com o monstro nos braços depois da fuga de Barroso.
Eduarda Napoleão protagonizou os talvez únicos momentos da vida da CML em que o seu pelouro (o do urbanismo) funcionou com rapidez, transparência, eficácia e limpeza.
Mas as raivas partidárias e os empecilhos do costume tinham que acabar com eles. Um bando de canalhas resolveu, já que a via política estava esgotada, tentar a criminal. Depois de ter aprovado a troca e a venda dos terrenos de Entrecampos, tal gente chegou ao ponto de negar o que tinha votado e de perseguir os seu agentes com mirabolantes acusações. O homúnculo de serviço no PSD (um tal Marques Mendes) resolveu dar “uma de ‘honestidade’” e deitou a Câmara abaixo, isto é, coonestou as acusações que a escumalha socialista tinha engendrado.
Subiu esta ao poder, sob a batuta do Costa e do bandido, pidesca criatura, que tinha custado milhões à CML com as suas queixinhas contra o túnel do Marquês, tendo ficado conhecido pela armadilha que montou a um empreiteiro - com a conivência da Judiciária - e pela protecção que deu à Mota Engil no caso dos contentores.
O túnel lá se acabou. Mas foi só o túnel. O resto, Parque Mayer, Feira Popular, foi para o tinteiro: dois vergonhosos pardieiros urbanos concebidos e fabricados por esta gente. O homúnculo deve estar orgulhoso da sua obra!
Passaram uns dez anos em que as pessoas acusadas de uma infinita série de crimes foram, pela segunda vez, absolvidas. Pela segunda vez, as acusações dos bandidos foram consideradas pelo tribunal como fruto de “suspeições, impressões, convicções não sustentadas, boatos e rumores” que transmitiram um “frágil desenho da realidade”, não contando em parte alguma “qualquer fundamento” para as acusações que só “um salto de fé” permitiria aceitar. Um julgamento anulado por intervenção do MP, outro interrompido por achaque da juíza presidente. Finalmente, mais uma sentença absolutória, como não podia deixar de ser. Entretanto, andou gente honesta a correr para o banco dos réus (dez anos!), a sofrer o opróbio público, a ver a sua vida prejudicada pelo banditismo político mais soez e repugnante.
Quem paga os prejuízos do túnel, quem indemniza os prejudicados, comerciantes e outros? O Fernandes? Não! A CML parece que até gosta de ter sido obrigada a pagar os atrazos. O Fernandes continua no poleiro, sob o olhar carinhoso do Costa. Quem paga à cidade o abandono de dois dos seus mais nobres terrenos durante os anos já passados e os que estão para vir? O Costa assobia para o ar. Não, meus senhores, o Costa não tem nada com isso. O Mendes também não. Ninguém tem a ver com o assunto. O Costa até foi reeleito, com Fernandes, Roseta e tudo! Isto é que dá o verdadeiro “desenho da realidade”de que falava o tribunal. É o que é facto, o que está à vista.
Às vezes dá vontade de achar que a democracia só funciona às vezes.
28.10.14
António Borges de Carvalho