CARTA ABERTA
Aos Camaradas do politburo do Comité Central
Com as nossas saudações revolucionárias, vimos alertar o CC para alguns problemas que a nossa gloriosa marcha para o socialismo real enfrenta.
Desde o emergir da nossa colaboração com a burguesia, apesar do aturado trabalho dos nossos infiltrados, tem o Partido, e nós com ele, adoptado uma linha de tolerância que não está nem na nossa tradição nem nos princípios revolucionários que são a base da nossa acção e garantia das nossa vitórias (o BE faz o mesmo, mas não importa, está longe de ser vanguarda, a vanguarda somos nós!).
Tememos que os camaradas que, sob a nossa direcção, se encarregavam das acções revolucionárias que, com tanta glória, vínhamos desenvolvendo, nas ruas, nas empresas, nas consciências, comecem a ficar desmoralizados por falta de ocupação, ou mesmo com temor do desemprego.
Temos tido sempre, como o CC bem sabe, as hostes bem preparadas e enquadradas para, em qualquer momento e a qualquer propósito, actuar de forma a perturbar os governos da burguesia, o que fizeram com assiduidade e denodo durante o tenebroso governo de Passos Coelho. Porém, as massas estão em repouso há quase 17 meses, o que é altamente contraproducente. Fizemos há dias um pequeno ensaio com os professeres – devidamente dirigidos pelos nossos camaradas – mas tal não deu uma sequer pálida imagem do que costumávamos fazer. Lançamos pois um apelo aos camaradas do CC para que tenham em conta a possibilidade de desmobilização das massas, o que será altamente inconveniente.
Reconheço que o governo que apoiamos tem tido algumas actuações convenientes. É o caso deste último PEC, em que qualquer tendência minimamente reformista foi abandonada, a não ser no caso, por exemplo, do arrendamento, “reforma” que, aliás, nos é conveniente. Quanto a outras, o nosso triunfo é total: tais reformas (trabalho, segurança social, energias, transportes, etc.) teriam como resultado o progresso económico e a reafirmação dos mais inconvenientes princípios burgueses, com a consequência de atirar para mais longe a criação das condições objectivas para a tomada do poder pelas massas, sob a nossa gloriosa vanguarda. Reformas não! Felizmente, o PS obedece. As reversões que, em boa hora, exigimos e aplaudimos, são avanços no sentido da revolução. As reformas são reaccionárias por natureza! A sua ausência, bem evidente no PEC que inspirámos, implica, a prazo que esperamos não muito distante, a ruína total do Estado burguês, o que merece ser saudado por todos nós e por todos os nossos camaradas. Sobre tal ruína ergueremos bem alto o socialismo real e o centralismo democrático!
Mas, e perdoem-nos a insistência, é indispensável reacender o clima das acções de rua, sob pena de se atrasar o caminho para o fim do euro, a retoma da Revolução a passos cada vez mais rápidos, o abandono desta Europa capitalista e burguesa, o restauro da soberania do proletariado (interrompida em 1975 e só timidamente recuperada, em 2015, através da aliança com os burgueses do PS e do BE) e o realinhamento da Pátria, dos Tabalhadores e do Povo com os nossos camaradas de Cuba, da Venezuela, da Coreia do Norte e de todos os que se batem pelos gloriosos amanhãs que nos compete instaurar.
Unidos venceremos!
Com as nossas mais profundas saudações marxistas-leninistas vos abraçamos, ó Camaradas!
Armínio Karl
Ana Avoiarx
Mário Noguécio