CIDADÃOS E CANALHAS
É do senso comum em uso na democracia liberal que a liberdade de pensamento e de expressão do mesmo é um direito inalienável de cada um. É? Era. É também do senso comum que os limites de tal expressão são os da ordem pública e do respeito por terceiros. É? Era. As políticas covidescas, e não só, acabaram com o senso comum.
O pensamento fora do main stream não mereceu referência e passou a ser obrigatório por alegada as exigências científicas (um lado delas) e por evidentes alterações morais e de costumes veiculadas pela moda das chamadas “causas”.
Sendo que são condenáveis e devem ser punidas as atitudes exageradas e irreflectidas do juiz que se “atirou” ao polícia, da maluca do megafone que insultou o Ferro e da outra tipa que deu uns empurrões ao almirante, as opiniões que lhes deram origem, por controversas em relação às maioritárias, não são, nem puníveis nem condenáveis. São aceitáveis e merecem discussão democrática. Além disso, por exemplo, não é aceitável nem moral que uma manifestação pacífica como a primeira dos apoiantes do juiz seja recebida pela polícia de choque ao ponto de haver braços partidos à cacetada, nem que, à segunda, se justificasse a presença da mesma polícia. Se a reacção injustificável do juiz em causa deve ser punida, o exagero policial também merece crítica. E, no entanto, só mereceu elogios da chamada informação.
Também se deve assinalar que as opiniões dos chamados negacionistas não são isentas de razão ou, pelo menos, de lógica. Não há dúvida de que o “comportamento” do coronavirus não segue à risca os ditames do chamado consenso. Por exemplo, o Dakota do Norte confinou, o do Sul não: num como noutro, a evolução pandémica foi a mesma, com pequena vantagem para o que não confinou. A Suécia é outro evidente exemplo da mesma verdade. Outros não faltam.
Mas os adeptos do medo são poderosíssimos, diria totalitários. Para eles, os demais são, pelo menos, malucos, bandidos, gente que deve ser calada seja por que meios for.
Qualquer ofensa aos antigamente mais elementares direitos e liberdades é barbara e sanitariamente justificada. Os “certificados” (que para pouco servem, substituídos que foram pelos testes de 48 horas) não podem deixar de lembrar os gesundheitpass dos nazis.
Como todos sabem, a propagandeada “libertação” não passou de mais uma aldrabice do governo, seguida de uma condenação verdadeiramente torquemadesca em horas e horas de televisão terrorisante, prenhe de adjectivos os mais soezes, dedicados a quem não partilha, por não estar cem por cento de acordo, do ataque às meninges das pessoas. Mesmo não faltantando, entre os adeptos do medo, quem condene, com carradas de razão, o que os poderes públicos andam a fazer às crianças, amordaçando-as, proibindo-lhes um recreio que mereça tal nome, isolando-as e prejudicando-as para a vida, continuam os indefesos a sofrero que para tal foram “cientificamente” seleccionados.
A isto tudo junta-se a espantosa questão da “fuga” da gripe, das estatísticas dos óbitos e tantas outras demonstrações do estado de desinformação em que estamos mergulhados.
Oficialmente, passou a haver cidadãos de primeira e de segunda. Ou és da “situação”, ou não vales nada. Pelo contrário, és um bandido, um descartável canalha.
18.9.21