COMEMORAÇÕES
Em 25 de Abril de 1974, um golpe militar derrubou o regime autoritário da II República, conhecido oficialmente por “Estado Novo” e não oficialmente por ditadura, fascismo, etc.
Tal derrube suscitou imediato, generalizado e indiscutível apoio popular. Os portugueses estavam fartos do controlo estatal, da polícia política, da estagnação ultramarina, do Império à custa de guerras que, mesmo que triunfantes nos seus principais teatros e inexistentes noutros, tinham perdido, enquanto tal, a compreensão e o suporte públicos. Longe iam os dias em que a manutenção fundamentalista do Império por parte das duas primeiras repúblicas era motivo de orgulho e em que havia suporte internacional para a sua manutenção. O fim das guerras do Ultramar e a independência dos seus territórios estavam na ordem do dia, assim como a condenação do isolacionismo em vigor e da repressão política que afastavam o país da Europa, da democracia liberal e do progresso social.
Passado o entusiasmo dos primeiros tempos, começou a ser evidente que os caminhos do poder político saído do golpe e protagonizado por hordas de militares, ou ignorantes ou engagés, apontavam mais para uma nova ditadura que para a fundação de um regime liberal à moda da Europa ocidental. Ressuscitava-se a perseguição, as prisões, a instabilidade, a mais aburda demagogia e o caminho para o socialismo obrigatório à maneira soviética, chinesa ou albanesa. A sociedade civil estava contaminada. Até muitos dos que se tinham notabilizado como defensores da democracia, como Jorge Sampaio (para citar só o mais importante), se opunham, por exemplo, à realização das primeiras eleições livres: havia que consolidar, primeiro, o socialismo, a democracia viria a seu tempo, se viesse.
Gerou-se então um movimento informal de oposição à nova repressão, ao qual aderiram alguns autores do golpe de Abril, os republicanos históricos e a generalidade dos populares que viam os seus sonhos democráticos em causa, vitimas do domínio que, manu militari, parecia ter condições para se “institucionalizar”. À beira da guerra civil, o país definhava economicamente, as nacionalizações avançavam, os governos ora apoiavam o caminho da revolução marxista ora hesitavam no que haveria a fazer para a travar.
Até que, em circunstâncias bem conhecidas, houve militares que, com o indiscutível apoio dos partidos democráticos e do povo em geral, conseguiram, pela força, pôr fim ao generalizado desnorte do nascente novo regime.
Não há, para quem leia a História com olhos de ler, dúvidas sobre o momento em que o golpe militar de Abril deixou de significar repressão e revolução em vez de liberdade, ditadura marxista em vez de democracia liberal. Tal momento deu-se mais de um ano e muitas desgraças depois, em 25 de Novembro de 1975. Se se quiser dar a saber, e celebrar, quando e como a Liberdade começou em Portugal, tal comemoração deve ser nesse dia, não naquele em que caíu a II República.
Comemore-se em 25 de Abril o golpe militar. Mas, se se quiser, com respeito pela História e pelas pessoas, comemorar o dia em que a ameaça ditatorial viu o seu fim, a data em que, verdadeiramente, a III República nasceu, então não se engane mais as pessoas e comemore-se o 25 de Novembro.
20.4.20