CONTOS
Povos há que têm grande admiração pelas derrotas que sofreram, ou por coisas que não aconteceram. Os sérvios, por exemplo, têm fundacional adoração por uma torre feiíssima postada num descampado do Kosovo onde perderam importante batalha. Os espanhóis (e o mundo inteiro) acham que Colombo descobriu a América quando aportou a uma ilha das Caraíbas e achou que estava na Índia.
Por estes dias, é o aniversário de Waterloo que se comemora. Napoleão pôs a Europa inteira a ferro e fogo, matou, roubou, destruiu terras e patrimónios, acabando, ainda bem, por ser vencido: em Portugal, na Rússia e, finalmente, em Waterloo. Mas os franceses têm a sua capital pejada de monumentos a Napoleão, de avenidas com os nomes heróicos dos generais batidos, no endeusamento tarado de um tarado. Em Portugal não falta quem teça loas ao fundador da moderna burocracia, sem se lembrar das pilhagens, dos mortos, dos bens perdidos por obra desse grandioso e carniceiro gatuno.
Os gregos que, pelas mais tristes razões, estão na moda, são objecto dos mais caritativos encómios porque... inventaram a democracia. Também inventaram a oligarquia, a aristocracia e outras "cias". Mas isso não conta, nem consta. E se Portugal devesse ter privilégios especiais, no século XXI, porque "deu novos mundos ao mundo"?
Parece que a História é feita de contos. Quem conta um conto, junta-lhe um ponto. Os pontos às vezes são tantos que os contos ficam de pernas para o ar.
19.6.15