CORTAR O MAL PELA RAIZ?
Li não sei onde que a “guerra” já não é entre esquerda e direita, mas entre os que “têm” e os que “não têm”. Uma generalização como outra qualquer, portanto errada. Num país como Portugal, os que “não têm” vão sobrevivendo, o que é pouco, os que “têm”, têm pouco - dinheiro a sério é coisa que não há desde os idos de 75 -, isto é, ou não chega para investir a sério ou tem medo do risco. As tiradas proto-marxistas não resultam nem têm a esperteza entre as suas qualidades.
Dizem as mesmas “fontes” que esquerda e direita se afastam no esquema, conforme se vão afastando do centro. Nada mais errado. O espectro político não é um segmento de recta, é um círculo onde as ideias, a partir do ponto A, se vão afastando e depois se aproximam até se tocar lá no extremo B do diâmetro traçado a partir de A. Por outras palavras: a “narrativa” dos dois extremos que se tocam em B é mais ou menos a mesma: populismo, nacionalismo, não aceitação da realidade, criação do inimigo externo, apelos à “dignidade”, à “consciência nacional”, à recusa de “tutelas”, "apelos à 'História' ", etc.. Assim se explica, por exemplo, a aliança grega entre os dois extremismos, a confessa admiração do Syriza por tarados tipo Chávez, aliás objecto dos mais rasgados elogio por parte do sr. Tripas. Assim se explica a admiração dos fascistas gregos pelo nacionalismo agressivo do sr. Putin, bem como a ameaçadora aproximação à Rússia e à China por parte da coligação grega. Imaginar que os sorrisos e os beijinhos do Vakis aos seus colegas europeus encerram alguma sombra de sinceridade é um erro crasso. O homem está ali com o seu sorriso alarve para encantar isabéis moreira (“porra!”), ao mesmo tempo que trabalha para o desmembramento da União e para o fim do euro, ao mesmo tempo que tece loas à invasão da Ucrânia e se opõe às sanções à Rússia, o que quer dizer que sabe que tem respaldo garantido por parte de quem comunga dos seus objectivos. Entre o proto-fascismo imperante na Rússia e o orgulhoso nacionalismo democrático do Syriza (ambos são poderes eleitos), venha o mais sábio descobrir as diferenças.
O problema é que, se a União ceder demenos, sabe-se o caminho russo-venezuelano que a Grécia tomará. Se a União ceder demais, condenar-se-á a adiar o problema. Já se viu como o Syriza encara os seus compromissos: tomando medidas que não tem dinheiro para pagar, certamente à espera dos euros da União ou dos rublos do vizinho. Tanto faz: parece que a rectaguarda está protegida.
Será possível acreditar em tal gente? Tudo indica que não. Por isso, bem vistas as coisas, parece que a União deveria considerar a hipótese de cortar o mal pela raiz. Quanto mais tarde, quanto piores serão as consequências.
13.2.15
António Borges de Carvalho