CORTINA DE FUMO
Um despacho meio maluco de um juiz da relação do Porto veio prestar à geringonça um precioso serviço. O país pensante, opinante e manifestante passou a andar cem por cento ocupado com o tal juiz. O absurdo despacho foi glosado, condenado, estraçalhado, demonizado segundo os ditames de todo e qualquer pensamento, opinião, religião, tendência, partido, filosofia ou necessidade de aparecer nos media.
Ultrapassados foram os incêndios, a guerra da estupidez socialista - trauliteira e ultramontana à moda do Santos Silva - contra o senhor de Belém. Ultrapassado foi o maior escândalo nacional, que vai timidamente emergindo por aí, sem comentários ou “pensamentos” que se vejam: o chamado governo deixou morrer sem assistência mais de dois mil doentes oncológicos; o senhor Centeno “cativou” as verbas (cinco milhões) consagradas pelo governo anterior ao reequipamento das cirurgias oncológicas; o SNS, alimentado por greves e reivindicações, está comatoso e inoperante nas mais diversas frentes.
Que interessa isso? Maus eram os ultrahipersuperneoliberais que andavam a destruir o estado social.
O “pensamento” socialista está acima deste tipo de pormenores. A morte faz parte da vida, não tem a importância que a “direita” lhe atribui. No caso dos incêndios, para o ano há mais, diz o chamado primeiro-ministro. E pronto. Caso encerrado. Estupidamente, foi reaberto pelo senhor de Belém, que resolveu, à segunda, dar à casca, ele que, à primeira, se tinha portado tão bem. Burro!, diz a opinião do PS profundo, com o apoiante silêncio dos tergiversantes e geringonciais parceiros. No que se refere à oncologia, a posição é a mesma. Moita-carrasco. Dez por cento dos doentes morrem à espera do bisturi. Que importância tem isso perante a universal e super versada sentença de um juiz machista, marialva e reaccionário?
Bem aproveitada, a sentença serve à maravilha de cortina de fumo. Óptimo!
29.10.17