CUIDADOS HUMANOS
Correram já rios de tinta e de antena sobre o que aconteceu ao desgraçado senhor Rendeiro. Há, no entanto, um pormenor sobre o qual ainda nada ouvi ou li.
O homem, condenado ou não, perseguido ou não, era um cidadão português sob autoridade de autoridades estrangeiras, que, segundo é voz corrente e aceite sem restrições nem desmentidos, estava encarcerado em condições infames, indignas de uma pessoa humana, criminosa ou não.
Nestas circunstâncias, seria comum, curial e normal que as autoridades portuguesas, pelo menos as consulares acreditadas no local, se interessassem pelo assunto. A verdade, porém, é que, das notícias publicadas, nem uma se refere ao nosso cônsul, à nossa embaixada ou, evidentemente, às instâncias judiciais interessadas na sua extradição.
O que acontece é que, agora, não há ninguém para extraditar. Pof!
Ninguém se preocupou sobre o facto de o homam estar “alojado” numa prisão de conhecida e reconhecida má fama, numa cela com oitenta criminosos de delito comum, todos uns em cima dos outros, sem quaisquer facilidades sanitárias ou cuidados médicos. Além disso, é evidente que a “hospitalidade” dos “colegas” em relação a um tipo de gravata não era com certeza invejável.
A nossa justiça borrifou no assunto, se calhar por achar que até era mais prático e poupava trabalho se desse ao condenado alguma providencial solipampa, coisa de que ele acabou por se encarregar sem dar satisfações.
O nosso consulado, se é que existe, que se saiba ignorou o assunto. Quando o homem se queixou de problemas de saúde (ignoradas olimpicamente pelos carcereiros e pelos juízes sul-africanos), assobiou para o ar, presume-se. Não tinha nada com isso.
O homem era um criminoso condenado. Devia ser extraditado para cumprir sentenças judiciais para as quais já não havia recurso. Disso não há dúvida. Mas nada disso devia fazer com que deixasse de ser um cidadão com passaporte português, por isso titular de algum interesse meramente humanitário (coisa que está na moda) por parte de quem nos representa no local.
Mais uma vez, as nossas autoridades, tão incompetentes ao deixá-lo fugir, manifestaram a mesma qualidade ao não o assistir quando disso precisava.
16.5.22