DA CONSAGRAÇÃO DO ABUSO
Não há quem não tenha experimentado as monumentais chatices que nos trazem os operadores de cabo com a história da “fidelização”.
Aceitar-se-ia que tal gente oferecesse uma hipótese mais cara, sem fidelização, ou mais barata, com ela. Não. Você, ou se casa com essa gente por dois anos, ou está feito ao bife. Tem que pagar, e não pouco, se mudar de casa ou se não gostar do serviço prestado. Durante meses andarão atrás de si com as mais rebuscada ameaças, depois passam à fase “judicial”, isto é, há uns advogados avençados que passam a titulares da perseguição. Para evitar mais chatices, você acaba por pagar, que é o que eles querem e que os “reguladores” apoiam.
Há pior. Uns tempos antes de acabar a fidelização, telefona uma menina a oferecer mais canais pelo mesmo preço, ou uns descontos na factura mensal ou outra porcaria qualquer. Você aceita, julgando que se trata de uma benesse. Mas o que você está a “aceitar” é um novo contrato, com mais dois anos da maldita fidelização. Aplicaram-lhe a pastilha à meia volta.
É comum ler-se por aí notícias de muita gentinha que se queixa amargamente do sistema. Tem-se dito que as “autoridades”, os “reguladores”, ou lá o que é, andam em cima da jogada e que os seus “direitos” virão a ser protegidos. Diz-se também que os chatos que têm pachorra e dinheiro contratam advogados e que os tribunais, uns anos depois, costumam atender às queixas. Mas você não está para chatices ou despesas com advogados e tribunais. Paga e não bufa.
Hoje, finalmente, vejo uma notícia no jornal sobre a tenebrosa fidelização. Uma distinta autoridade ter-se-á, finalmente, debruçado sobre o assunto! Vã esperança. O que a tal coisa fez foi obrigar as empresas a declarar na factura quantos meses faltam para acabar a tramoia.
Por outras palavras, ficou a coisa aceite, legitimada, definitivamente legalizada. É a consagração do abuso. Bonito!
Perguntar-se-á por alma de quem têm estes tipos do cabo o direito de obrigar cada um a ser-lhes fiel. Se você quiser acabar com qualquer contrato do género, água, gás, electricidade, acaba. Mas, se se quiser ver livre de algum fornecedor de TV, tem que alargar os cordões à bolsa, sob pena de perseguição.
A pergunta que o indígena coloca é esta: para que serve a “autoridade”? Se for eu a responder, direi: serve para o mesmo que a esmagadora maioria dos “reguladores”, das “entidades”, dos “altos comissariados”, quer dizer, não serve para nada que não seja dar dinheiro a ganhar a uns manjericos que, como é o caso, para mostrar que existem bolsam umas burocracias idiotas.
6.6.18