DA CRISE DO REGIME
Praticamente unânime é a opinião dos intelectuais/opinadores/”cientistas” políticos e produtores de bocas que peroram e escrevem acerca de uma crise do regime, de que será testemunho o facto de a gigantesca trafulhice que nos pôs de boca aberta estar agora a contas com a Justiça.
Pelo contrário, o regime dá sinais de vitalidade.
Passo a explicar. O regime - a democracia liberal - tem o Estado de Direito como um dos seus esteios. Depois de anos e anos em que a Justiça andou de mãos atadas às ordens do PS e dos amigos e admiradores do senhor Pinto de Sousa, dito Sócrates, eis que, com Passos Coelho, reganhou independência e agiu em conformidade. Com Passos Coelho acabaram os conluios com o chamado poder económico (veja-se o caso BES), a comunicação social não mais foi sujeita a pressões e a manobras para o domínio do seu capital e dos seus profissionais, o governo deixou de se meter em negócios escuros de terceiros, a banca deixou de ser instrumento de inconfessáveis políticas, a Justiça reganhou algum direito ao respeito dos cidadãos. Portanto, a acusação da operação Marquês é um sinal, não de uma crise do regime, mas do seu funcionamento.
Sinais de crise do regime tem havido muitos. O golpe de Estado de Sampaio torceu a lógica do regime. A ascensão ao poder de António Costa acabou com quarenta anos de respeito pelos resultados eleitorais. Nesses casos, meros exemplos, o regime foi posto em causa. Não o foi pela actual acusação.
Como muitas outras, esta é crise do PS, ou provocada pelo PS. O que está em causa é a governação do PS, a forma de o PS se “safar” de todas, ao ponto de legislar ad hominem para punir juízes inconvenientes, de se conluiar com actos de banditismo e com interesses suspeitos. Ao longo de muitos anos, o PS tem comandado e provocado crises umas em cima das outras, sempre “sem culpa”. Os companheiros da bancarrota, adeptos ferozes do chefe da trafulhice, levaram anos a aplaudi-lo e a segui-lo, e voltaram ao governo como anjos injustiçados e perseguidos. Não viram, não ouviram, nada disseram. Pelo contrário, aplaudiram, apoiaram, chamaram nomes a terceiros, aos que queriam pôr as coisas no são.
Crise de regime, sim, mas não pelas razões invocadas pelo exército dos intelectuais/comentadores/”cientistas” políticos e produtores de bocas. Crise é o poder político que temos. Crise é, por definição, o PS e os seus parceiros.
14.10.17