DA HONESTIDADE INTELECTUAL
Um tal Viriato (o do Diário de Notícias, não o dos Montes Hermínios), habitual debitador de “soluções” mitológicas e de dislates esquerdóides, veio decretar que a dona Maria Luís “cometeu um grosseiro lapso freudiano” ao dizer que os governos dos países do euro “tinham decidido, por unanimidade”, a favor do prolongamento da austeridade. - Esta do prolongamento da austeridade é da cabeça do Viriato, não correspondendo ao que a ministra terá dito. Adiante. - O “grosseiro lapso freudiano” – seja lá isso o que for – consistia em pôr a Grécia “fora do eurogrupo”. Quereria o regurgitante intelectual significar que, sendo a Grécia membro do eurogrupo, não podia ter havido “unanimidade”. Se este pensador de vão de escada fosse sério perceberia que, sendo a recusada proposta feita pela Grécia, aos outros competia julgar, e julgaram por unanimidade. Quando a um tipo destes faltam razões, entra na especulação barata e na aldrabice sem peias. Talvez seja grosseiro e freudiano, mas não é lapso, é assim mesmo.
O homem queria razões para concluir o que segue: a maioria portuguesa está possuída de “cegueira servil e obediente” que a faz “trocar o interesse nacional pela satisfação imediata do seu egoísmo de ‘fação’ eleitoral”. Conclusão esta com certeza integrada na incessante campanha oposicionista que vem levando, de braço dado com o DN. E pronto.
Interessante é verificar que a tal “cegueira servil e obediente” é partilhada por mais 18 governos, pelos vistos todos eles cegos, servis e obedientes. Uma epidemia. Um caso de saúde pública? Não. Um caso individual de falta de saúde mental crónica, agressiva e, é de ver, paga.
E também não deixa de ser interessante que, no parecer do fulano, tal cegueira seja nada menos que, em português coxo e ortográfico, a dita “satisfação imediata do egoísmo de ‘fação’ eleitoral” do governo. Esta é de cabo de esquadra, já que é evidente que, no seu “imediato” interesse eleitoral, seria mais cómodo e interessante para o governo se, nesta matéria, se pusesse a dar uma no cravo outra na ferradura, mais que não fosse para ir buscar uns votinhos às zonas por onde andam os indecisos que tendem a ir na conversa proto-Varofaquiana do Costa. Se o PM opina como opina, não é, gritantemente, porque sacrifique o interesse nacional aos votos votos mas, simplesmente, porque é um tipo sério.
Concluamos nós: seriedade não é coisa que faça parte dos costumes nas florestas de enganos onde vicejam os viriatos do nosso tempo.
18.2.15
António Borges de Carvalho