DA NOVOENTA INDEPENDÊNCIA
A propaganda, bem oleada, do Nóvoa, chegou ao ponto de haver um tipo, na TV, que o compara ao Papa Francisco! O que vai haver por aí não se sabe, mas lá que promete, promete.
A mais engraçada talvez seja a loa da independência. Um homem sem partido, que nunca se meteu na política (?), um académico de qualidade, cheio de teses e feitos magníficos de que nunca ninguém ouviu falar mas não interessa (a culpa é do ninguém), um orador de excelência que, com mais um jeitinho, apesar de nunca ter dito nada que se veja para além de esquerdófilo-patriotiqueiras inanidades, passará a reincarnação do Padre António Vieira, o ideal para ser suporte fiel de governos de esquerda e feroz inimigo dos outros, homem de ambição modesta(!), enfim, o máximo.
A título de parêntessis, sublinhe-se que voltou à baila a discussão sobre os poderes do PR, coisa que ninguém sabe o que é já que todos os PRs andaram dez anos à interpretá-la, não se coibindo, porém, de abusar à fartazana. Casos de Eanes – que se serviu da presidência para produzir governos tontos e, depois, para criar um partido palhaço; de Soares - que fez dela permanente arma de arremesso contra o governo; de Sampaio – que chegou ao ponto de, via evidente golpe de Estado, correr com um governo maioritário que o próprio tinha empossado. Tudo gente do melhor, muito útil à Nação, como a história da III República demonstra à saciedade.
Se alguém, um dia, resumiu numa frase os tais poderes foi Jaime Gama, que cito de indelével memória: os poderes do PR são os que estão, rigorosamente limitados e delimitados, na Constituição revista em 82, e mais nada. Jamais algum dos visados percebeu, ou quis perceber, o que Gama disse, expressando claramente o espírito do legislador. Fabricaram o “poder moderador”, como se fossem Reis da Carta Constitucional; armaram-se em críticos expressos e em governantes subliminares. Inventaram a extraordinária tese do “presidente de todos os portugueses”, como se tal coisa não fosse absurda e inconstitucional. Nunca se limitaram a ser representantes do Estado, ou da República, de que tanto gostam. É a “moral republicana” numa das suas mais “profundas” manifestações. Foram sempre inúteis, contraproducentes, empecilhos, politiqueiros e invejosos dos poderes governativos que o povo a outrem conferiu.
A imaginação política vigente regula-se por este “princípio”: se o PR for de esquerda e o governo de direita, tem aquele a obrigação estrita de se opor a este; se forem ambos de esquerda, o primeiro deve, com toda a legitimidade, apoiar o governo por todos os meios ao seu alcance; se o PR e o governo provierem ambos da direita, então o primeiro, se apoiar o este, estará a trair a Pátria.
A “independência” do Nóvoa é vista à luz deste nobre princípio, isto é, uma vez eleito será a favor do governo, se este for do PS e quejandos; far-lhe-á a vida negra, se não for.
A “independência” do fulano tem sido demonstrada à saciedade em várias ocasiões. Por exemplo: veio a público (raio de escolha) pela primeira vez, num 10 de Junho, aproveitando para, além das habituais fantasias literárias, produzir cobras e lagartos contra o governo. Depois, foi estrela convidada do congresso do PS, onde arrancou, via inocuidades várias, lágrimas de comoção à jacobinada. Mais tarde, foi manifestar a sua mais profunda solidariedada ao Soares e à cambada de múmias que, a seu convite, quase encheram a aula magna. E arrancou “independentes” aplausos às entusiásticas massas congregadas na Gulbenkian por esse maioral da patacoada castrense que se chama Vasco Lourenço.
É esta a “independência” do Nóvoa. E é por causa desta “independência” que o Costa, não o dizendo, para já, com a exigível honestidade, o quer pôr em Belém.
Será que a malta vai perceber esta história, ou será que vamos mesmo ser entregues à bicharada?
11.4.15