DA SEGURANÇA SILVÍCOLA
O IRRITADO já por várias vezes se pronunciou sobre o assunto deste post. O acidente de anteontem com um autocarro de turistas que levaram com uma pernada no toutiço fá-lo voltar à carga.
Há coisa de cinquenta e tal anos, numa ignorada revista, o agrónomo Ribeiro Teles lançou uma campanha contra aquilo a que chamava “As podas extemporâneas das árvores de Lisboa”. Não sei se Ribeiro Teles tinha razão (ao longo da vida, às vezes, teve-a).
A coisa fez escola, de tal maneira que nunca mais houve podas, extemporâneas ou não, nas árvores da cidade. Ou seja, a CML aproveitou para deixar de gastar dinheiro com isso. As árvores dos anos cinquenta deram-se ao trabalho de crescer, e é vê-las entregues a si próprias, luxuriantes à vista mas condenadas à morte a curto prazo, em silvícolas termos e tempos, que são outros, não os dos humanos indígenas.
O desleixo camarário é botanicamente estúpido e socialmente criminoso. Muita sorte temos tido por ainda não ter havido desastres como o da Madeira, em que morreu uma data de gente, vítima de uma árvore abandonada a si própria.
Os frondosos ramos das árvores da Avenida da Liberdade e de outros “espaços verdes” da cidade lá estão, cada dia mais ameaçadores. De Maio a Dezembro, a Avenida é um túnel sombrio que faz o encanto de muitos, mas que põe em risco a vida das pessoas e a saúde das árvores.
Felizmente, ou nem por isso, temos um autarca que, rápido e sabedor, descobriu as causas do acidente na Avenida. Dando mostras de inigualável inteligência, a melíflua criatura declarou que o autocarro sinistrado e os turistas feridos foram vítimas da incúria da Junta de Freguesia. Estranho é que não tenha dito que a culpa é de Passos Coelho. Contentou-se com a Junta, a qual, ó espanto, é do PSD. E, levando o brilhantíssimo raciocínio um pouco mais além, tomou de imediato a douta decisão de mandar cortar, não uns ramos às árvores mas umas verbas à Junta, assim dando mais um exemplo da preocupação do poder com com a celebradíssima “descentralização”.
O caso das árvores ao abandono, mais do que um problema da sua sobrevivência, é um atentado à segurança, para não dizer à vida de cada um.
O IRRITADO aconselha vivamente a autárquica criatura a ir, por exemplo, a Paris, a fim de aprender como se trata das árvores das avenidas. Julgo que a saison está a acabar, pelo que o melhor é ir depressa e antes que se torne extemporâneo. Talvez aprenda por lá alguma coisa.
Em alternativa, deixe-se lá ficar. Aqui, não faz falta nenhuma.
22.2.18