DADOS PESSOAIS
Aqui há dias, telefonou-me uma senhora a oferecer serviços vários. Não estava interessado. Como não conhecia a fulana de parte nenhuma, perguntei-lhe onde tinha ido arranjar o meu nome, número de telefone, morada, etc. Coitada, foi sincera: umas fulanas de uma empresa com que eu tinha tido um contacto fortuito deram-lhe os dados, e pronto. Não tina havido um negócio, só uma “atençãozinha”.
Todos os dias somos bombardeados por chusmas de propagandistas disto e daquilo. Às vezes é difícil, por questões civilizacionais e por se tratar de infelizes assalariados de call centers e coisas do género, mandá-los a um sítio que eu cá sei.
Há dias perguntei a uma dessas pessoas onde tinha ido buscar os meus dados. Ela – se o patrão soubesse punha-lhe os patins - respondeu que faziam parte de “bases de dados” que tinham sido vendidas à empresa sua representada.
Colhi mais umas informações e fiquei a saber (como sou velho e ignorante!) que tais vendas são comuns, prática corrente, negócio florescente. E que quem não quer “ser vendido” as mais das vezes terá que pôr uma cruzinha num quadradinho escondido em qualquer recanto de um papel qualquer. Juraria que, na maior parte dos casos, damos dados sem que haja tal quadradinho.
Hoje, titula um jornal: Não proteger dados pessoais vale multa de 20 milhões. Parece que, na UE e em Portugal, há inúmeras entidades, comissões, direcções, autoridades e coisas do género que ganham a vida a regular, vigiar, fiscalizar, aplicar regulamentos, portarias, leis, despachos, etc., tudo coisas paridas por governos, parlamentos, presidentes, gente com super legítimo poder para o efeito.
Ou seja, há exércitos de vigilantes destinados a proteger os nossos dados pessoais, tudo gente do melhor, a custar um dinheirão, como é natural e justo.
Parece porém que, tirando os ordenados e outros custos destes impecáveis moralistas oficiais, diz a prática que tudo não passa de blabla.
Os filósofos do pleno emprego, os que lutam contra a precariedade, os sindicatos, os poderes políticos, os legisladores, os funcionários, etc., devem achar que cumprem as suas obrigações, que zelam pelo cumprimento das leis em vigor. Ficam todos muito descansados, isto é, desde que o ordenado lhes vá, atempadamente, sendo creditado, como é justo, legal e natural.
Entretanto, os nossos dados pessoais não passam de mercadoria livremente transaccionada por esse mundo fora, com IVA e tudo.
Se há um estúpido no meio disto tudo, esse estúpido sou eu, que tenho a mania de acreditar na humanidade e nas cruzinhas que, às vezes, vou pondo em generosos quadradinhos.
Quais multas, qual vigilância, quais leis, qual carapuça!
29.2.16