DEMAIS
Num pequeno escritório, profissinoais de várias matérias tinham uma só empregada, que atendia o telefone, arrumava uns papéis, recebia e mandava faxes e pouco mais.
Ora a rapariga engravidou. Um mês antes da chegada da criança e quatro depois, esteve ausente, o que causou naturais problemas. Até aqui, tudo bem. Paciência. Poucos dias depois do regresso, meteu um mês de férias. Estava combinado. Paciência. Depois das férias lá voltou, com o bronze da ordem. Pouca paciência. Mas admita-se. Uma semana depois, apareceu com um papel que lhe dava direito de “amamentação”. Tudo mal. Paciência nenhuma. Como morava num distante algures, a fulana chegava às nove, às dez saía para ir amamentar. Uma hora até casa, mais uma a amamentar, outra para o regresso, a manhã estava feita. À tarde, a mesma coisa. Durante um ano. Não havia nada a fazer. O médico da SS devia ser amiguinho.
Pergunta: há direito que haja estes “direitos”? O patrão não podia ter o direito de exigir prova da natureza leiteira da cidadã? Acho que sim, por muito que isto incomode os nacional-bem pensantes.
Parece que houve uns médicos que, em circunstâncias paralelas, queriam que as enfermeiras leiteiras fizessem a tal prova. Atentado aos inalienáveis direitos direitos de tais senhoras! Ditadura! Fascismo! O demagogo da Ordem dos médicos instaura processos disciplinares aos culpados. A imprensa estremece de indignação. A Pátria geme, ofendida.
O que quer dizer que há enfermeiras que, com a mesma estrutura mental da menina do escritório, podem andar mais de um ano na boa vai ela à conta de “direitos” intocáveis, sendo proibido que se lhes peça contas ou provem que, de facto, têm tais direitos.
O que é demais passa da conta.
23.4.15