DEMOCRACIA EM ÉVORA
Já lá vão muitos anos, o primeiro comício do CDS, no Palácio de Cristal (Porto) foi cercado por uma multidão ululante formada por inúmeras organizações à época existentes – PC, MRPP, FML, SUVs, UDP e mais uma colecção de díscolos de extrema esquerda, bolchevistas, maoistas, albaneses, a porcaria toda. O CDS era um partido fascista, inimigo da democracia e da liberdade, representava “mais negra reacção”, os adeptos do Estado Novo, devia ser proibido, etc. A coisa meteu polícia, pancadaria, o que, à época, era a bagunça vigente.
Passados mais de quarenta anos, a cena repete-se, desta vez em Évora. Os herdeiros dos brigões daquele tempo, PC, BE, Livre e mais não sei quantas organizações ditas “progressistas", juntaram-se para impedir uma manifestação do Chega, que alcunham, como alcunhavam o CDS, de fascista, inimigo da democracia e da liberdade, representante da “mais negra reacção”, adepto do Estado Novo, xenófobo, racista, que devia ser proibido, enfim, a mesma receita com ligeiras actualizações. A mesma mentalidade com novos intérpretes, inimiga de tudo o que não seja rigorosamente “correcto”, quer dizer, de tudo o que não coma, em quantidades variáveis, do prato do totalitarismo de esquerda.
Não sou eleitor do Chega, como, na altura e até hoje, nunca o fui (com uma exepção) do CDS. Mas a “ascensão” do Chega tem razões de ser que pouco ou nada tem a ver com as acusações que lhe fazem. O Chega, há que reconhecê-lo, diz muita coisa – às vezes com pouco aceitáveis expressões e exageros - que cala fundo no espírito de muita gente que nada tem da “fascista” ou coisa parecida. Denuncia problemas que os partidos têm pudor em reconhecer. Não é contra o sistema democrático (ao contrário da extrema esquerda), é contra o seu actual funcionamento. Se tal funcionamento não o fizesse passar a vida a meter importantes questões debaixo do tapete, o Chega não teria espaço nem o apoio popular que parece ter. Mas como vasculha debaixo do tapete de um sistema inquinado, como vai buscar lixo cuja existência os demais partidos se recusam a reconhecer, passa a persona non grata. Acresce que, ao contrário dos partidos europeus de direita radical, não é estatista, nem jacobino, o que é imperdoável para os “correctos”. E como tais “correctos” são donos e senhores da liberdade - coisa que todos os dias maltratam – para eles merece os mais variados insultos e a bagunça nas ruas quando deita a cabeça de fora.
O problema não é a existência do Chega, é o da prevalência da porcaria intelectual, ideológica e política em que estamos enclausurados.
21.9.20