DEMOCRACIA SOCIALISTA
Um sururu dos diabos se tem levantado por causa do horror dos despejos. Muito bem. Quem ler os jornais fica convencido de que há uma conspiração movida por bandos de capitalistas sem escrúpulos que se dedicam à vil arte de pôr velhinhos na rua mediante despejos movidos por ódio de classe e odiosa ganância.
Com desculpas deste jaez o chamado governo prepara-se para relançar o sistema do Estado Novo e da I República. Para já, devagarinho. Só uns passinhos, pôr os senhorios a pagar obras sociais do Estado, uns toques de magia no direito de propriedade, umas achegas nos prazos dos contratos. Vão-se habituando a estas coisinhas. Depois virão mais, até que se acabemn os prazos, se congelem as rendas e mais o que se seguir. Quando a cidade estiver outra vez a cair de podre, a obra estará consumada. Aí, se o socialismo continuar ridente e progressivo, mais um toque, toma-se posse administrativa ou, se as coisas correrem mesmo bem, nacionaliza-se e pronto.
Exagero? Talvez. Mas a verdade é que grão grão enche a galinha o papo.
A justificar as medidas que andam a ser para aí anunciadas, foram publicados alguns dados sobre os horríveis despejos. Dos que foram pedidos, uns 40% foram recusados por deficiências documentais. Dos outros, 20% foram considerados improcedentes ou foram objecto de superveniente solução ou acordo das partes. Dos 40% dos depejos deferidos, 95% foram-no por falta de pagamento da renda.
Donde se conclui que o que o chamado governo quer, para já (é para isso que se quer acabar com o balcão do arrendamento), é que tudo volte aos tempos do Afonso Costa ou do Salazar: pagar ou não pagar a renda é detalhe, os tribunais, em cinco ou seis anos, resolvem a coisa, são cinco ou seis anos a viver à pala. Resolver os contratos, isso não é coisa que, em democracia socialista, se possa admitir.
Vão ver. Step by step, a galinha vai enchendo o papo.
29.4.18