DESGRAÇA CARA
Grande vitória a do Cravinho pai. Não, não é como a proposta de envio de tropas para a Venezuela que o Cravinho filho queria. Essa foi derrotada. O pai, pelo contrário, averbou retumbante vitória: vai buscar ao orçamento do camarada Ferro Rodrigues nada menos que uns 480.000 euritos para pagar os "estudos" encomendados pelos “sábios” - ou aos “sábios” - que fazem parte de uma distinta comissão que, com mandato de “justificar” a regionalização, tem o nome aldrabófono de CID – Comissão Independente para a Descentralização. Segundo o próprio Cravinho pai, o dinheirinho destina-se a encomendar estudos sobre a reginalização a “reputados especialistas”. Só para o camarada Freitas do Amaral são mais de 100.000, uma miséria. Para os outros não se sabe, ou não vem nos jornais.
Foi uma luta sem tréguas. Os administradores da Assembleia não lhe davam mais que 190.000 moedinhas. Indignado, o Cravinho pai desatou a espadanar. Depois de muitas voltas, lá conseguiu o que queria, com o apoio dos partidos regionalizadores, o PS e o PSD/Rio - extinto que parece estar o antigo PPD/PSD. O CDS e o PC votaram contra. O BE, por causa das moscas, ficou de fora. Honra ao Pedro Pinto (PSD) e a uma Eurídice Pereira, do PS, que manifestaram a sua discordância.
Cinicamente disfarçado de descentralização, o projecto de esfrangalhamento do país vai de vento em popa. Os “estudos” têm conclusão pré-determinada e obrigatória: a regionalização é óptima e a opinião pública deve ser devidamente “trabalhada” a fim de que o futuro referendo que querem provocar tenha o resultado que pretendem, ou seja, o contrário do anterior. Bem visto, não é?
Portugal existe porque o poder político nunca deixou que o país se dividisse. Foi esse o “segredo” da unidade e da coesão nacional, exemplarmente conseguida. Quando os poderes regionais (fácticos ou institucionais, da nobreza ou do clero) se tornavam demasiado poderosos, o poder (o Rei) recorreu sempre aos tradicionais municípios ou ao povo para os limitar. As duas primeiras Repúblicas não contradisseram a tradição.
Transformar um pequeno país na manta de retalhos de pequenas regiões, querer comparar-se ao “Império Castelhano”, criar uma multidão de novos políticos, complicar ainda mais a teia de poderes, gastar milhões com isso, criar rivalidades que só existem na cabeça paroquial de certos mini-líderes locais, talvez não seja uma traição à pátria e à História, mas será com certeza um acto estúpido, perigoso, contraproducente e pouco português.
Mas os “estudos” vão prosseguir, principescamente pagos e cheios de cravinhal importância.
5.3.19