DESMANDOS COMISSIONAIS
Muita tinta corre por aí sobre o “puxão de orelhas” que levámos da Comissão. Para uns, estamos mal, muito mal, muito pior do que o governo diz. Para outros, nada mais natural, a vigilância europeia continua, está escrito, acordado, decorre dos tratados, todos os países estão na mesma situação, à excepção dos que ainda têm “programas”. A França e a Itália, fortes economias europeias, estão precisamente na mesma situação. Donde, fez a comissão muito bem, fez o seu papel, e não há conclusões de maior a tirar daí.
No meio disto, o que impressiona o IRRITADO é o que a Comissão deitou cá para fora.
Diz ela que os apoios sociais são poucos, “atingem os mais pobres”. Então não sabe que, de todos os países europeus, desde 2010, Portugal foi o que menos prejudicou os mais pobres em relação aos mais ricos ou menos pobres? Não viu que OCDE demonstrou isto por a+b? Não sabe que os mais pobres não pagam rigorosamente nenhum imposto? Que raio de opinião!
Diz ela que “receia” que a reforma do IRS vá “favorecer os ricos”. Então os “ricos” - à portuguesa, os ricos começam na classe média B - que pagam 40, 45, 50, 60 por cento, e mais, sobre o que recebem, e vão continuar a pagar (se não conseguirem inventar despesas elegívies), estão a ser favorecidos? Os economistas da Comissão são parvos ou, como ganham para fazer relatórios trimestrais, têm que dizer alguma coisa, seja o que for, mesmo que destituído de qualquer aderência à realidade?
Diz ela que acha que o aumento do salário mínimo não vai ter efeitos que se vejam. Então a Comissão, que foi sempre contra o aumento do salário mínimo, agora acha pouco? Que gente é esta?
Diz ela que está preocupada com o chamado défice tarifário, isto é, que o país não encontre forma viável de o pagar. Quer dizer, em vez de defender os interesses do país e de recomendar que façamos como os espanhóis, mandando acabar com a pornográfica mama de tal “défice”, a Comissão está com medo que a mama acabe! Raio de gente!
Diz ela... bom, há mais, mas para quê falar nisso?
O IRRITADO não é contra o “direito” que a Comissão tem de nos vigiar. Mas, que diabo, parece que seria de exigir ao vigilante que tivesse um mínimo de conhecimento do “terreno” em vez de mandar bocas idiotas e críticas sem sentido. Estará feita com o PS?
26.2.15
António Borges de Carvalho