DESORDENS
Ontem teve o IRRITADO a desgraça de ouvir a desagradabilíssima criatura que a ilustre classe dos advogados elegeu bastonária da sua ordem. A mulher é uma espécie da passionária (para rimar com bastonária), que vomita as mais inacreditáveis aleivosias contra a ministra da Justiça. Não chegou o triste espectador, sequer, a perceber as razões, porventura ponderosas, que levavam tão horrível harpia a desbocar-se daquela maneira. A saraivada era de tal ordem que a fulana se deve ter esquecido daquilo que, de substancial, a levava a estar tão raivosa, ainda que, como de costume, lhe tivessem dado tempo de antena de sobra.
A locutora da organização televisiva veio em socorro do res+eitável público, esclarecendo que tão rebuscada indignação se devia ao facto de a ministra ter admitido, num papel qualquer, a presença de não advogados nas respectivas firmas. Se é isso, porquê tal e tão grande fúria? Será que as firmas de saúde só podem ter médicos no capital? E as de engenharia só engenheiros? Parece que, no parecer da distinta criatura, o Salvador Caetano – coitado, já lá vai - se quisesse fazer, ou mandar fazer, carroçarias, tinha, pelo menos, que ser especialista em construções metálicas devidamente homologado pela Ordem dos engenheiros. Há raciocínios cuja lógica, por demasiado inteligente, escapa ao pobre bestunto do IRRITADO. Distinta sucessora e seguidora do inacreditável produtor de bojardas que quer ser presidente da República, Màrinho de seu nome, esta autóctone consegue ultrapassá-lo em palavreado verrinoso, o que não é fácil.
Noutra zona do mais activo profissionalismo, temos um tal Silva, também bastonário, desta vez dos médicos. O homem tem uma noção muito especial das suas funções. Confunde ordem com sindicato, faz greves, e dedica-se à boca política em vez de tratar de assuntos deontológicos ou profissionais onde, se tivesse alguma noção do que lhe compete, não lhe faltaria que fazer.
Enfim, parece que as ordens, nesta terra, são mais desordens que outra coisa.
30.1.15
António Borges de Carvalho