DIABRURAS
Aqui há tempos, lembram-se (com certeza que se lembram), o governo PSD/CDS mostrava, com orgulho, que tinha conseguido uma “saída limpa” do programa da troica. Tal saída podia ter sido mais limpa (talvez pudesse), mas foi uma saída, conseguida à custa de sacrifícios gerais. É evidente que não havia outra solução, pelo menos sem afrontar perigossamente os poderes que, à altura, tudo podiam.
Sabe-se o resultado “social” de tal triunfo. A filarmónica de esquerda deu corda aos trombones. Que não era saída nenhuma, que era tudo mentira, que os sacrifícios não se justificavam, que estávamos à beira do abismo, que era ridículo rever-se o governo no seu sucesso, que o défice não interessava, que o estado social tinha sido sacrificado, sei lá que mais, no Parlamento, nas ruas, nos jornais.
Entretanto, a negregada política do governo tinha reduzido em quase dez por cento o tal negregado défice (que o PS causou, lembram-se?), o que era “contra a vida”, Sampaio dixit. O estado social nada sofreu – mesmo com a esquerda a espernear o contrário -, o desemprego começou a descer, a economia e a confiança a sair da letargia.
A geringonça substituiu o governo legítimo, lembram-se como? Destruindo ou negando quarenta anos de uma prática constitucional moderada, negando a honestidade, a honra, os resultados eleitorais e as próprias promessas dos vencidos, ora trasvestidos de vencedores.
Resultados? Abaixo de zero. A economia, que ia ser relançada via consumo, estagnou, está em crise de confiança, com números aterradores. Nem o turismo, que cresceu apesar da geringonça, ou a reentrada em funcionamento da refinaria, apesar da geringinça, chegam para atenuar os efeitos catastróficos do aumento da despesa (sem um chavo de investimento!) e, ó espanto, a tão criticada política de redução do défice passou a ser a menina bonita dos olhos do chamado governo.
Parece certo que, apesar de abandonado o investimento, de aumentada a despesa, com perdões fiscais e outros truques mais, a inenarrável geringonça vai conseguir reduzir o défice em 0,5%. Gigantesco triunfo, dizem os trombones todos os dias, a todas as horas, se comparado com os 9% do anterior governo. Que interessa isso, se comparado com os tais 0,5%? Nada, no parecer da geringonça. Entretanto, a dívida conhece os dias mais felizes da sua história, não parando de engordar. E o estado social? Coitadinho, afogado em dívidas, os hospitais em crise, as escolas feitas num oito, não há dinheiro para coisa nenhuma. A malta (leia-se, aclientela), com mais uns tostões no bolso, afogada em propaganda, não dá por isso.
Como já escrevi algures, Passos Coelho errou: o diabo não vem aí. Já cá está cá, e manda nisto tudo. Tem sede em Belém e sucursal em São bento. Quando a malta acordar vai ver-se à rasca para correr com ele.
Feliz 2017.
27.12.16