DIFERENÇAS
Você anda nervoso, chateado, apetece-lhe matar a sogra, está farto de aturar os miúdos, a conta do banco anda aos bordos. A meio da noite, estremunhado, depois de fazer xixi senta-se na sacada da casa de jantar. A lua vai alta, é verão, uma doce brisa parece sair dos requebros das árvores do jardim. Tudo à sua volta é silêncio, paz, harmonia. Só você está triste. Sente que precisa de qualquer coisa que o anime, que se junte à noite para o ajudar a sair das suas iras e inquietações. Lembra-se de ouvir música. Boa ideia. Vai lá dentro e escolhe. Uns nocturnos de Chopin ou uma coisa mais alegre, talvez Mozart. Põe a tocar o que escolheu e, meia hora depois, está recomposto ou, pelo menos, melhor.
Mas isto é você. Há gente muito diferente neste mundo – é a diversidade genética, como se diz em ecologuês.
Por exemplo, há uma fulana de quarenta e cinco anos, que parece ter cinquenta e quatro (do tempo em que as pessoas não iam ao dentista), com melenas oxigenadas penteadas à garçonne, toda serigaita, a quem chamam ministra da saúde, a qual, quando está chateada (ela é que o disse!) ouve a “Internacional”, e fica logo boa.
Veja bem a diferença entre si, meu caro, e a gente que diz governá-lo!
13.5.19