DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS
A derrocada do BES/GES tem dado que falar, e vai continuar a dar por muitos anos e maus.
Em poucas palavras, pode dizer-se que o dr. Salgado & Cª foram vendo as coisas a correr mal, foram tapando os buracos com créditos, uns bons outros nem por isso, foram emitindo títulos e acções à barba longa, foram gozando de protecção política, talvez à espera que as coisas melhorassem, fosse por obra e graça do Espírito Santo (o Outro, não o próprio), da Senhora de Fátima, do Dr. Draghi, do São Granadeiro, de alguma “entidade” ou de alguém, como Passos Coelho, que lhes desse a mão.
Passos Coelho deu-lhe com os pés e… é o que se sabe.
O dr. Salgado está em liberdade sob fiança, os membros da família, uns ainda de boca aberta de espanto, outros a consultar a consciência, tremem a contar os tostões que lhes restam. Segundo o que os jornais dizem por aí, as sacudidelas de água do capote são mais que muitas: ninguém sabia de nada, a surpresa foi total, os que nada assinaram nada assinaram, os que assinaram alguma coisa julgavam que a coisa estava certa, e por aí fora.
Durante os próximos anos, ou décadas, o assunto vai ferver nas águas mais ou menos tépidas dos tribunais e, um dia, talvez os nossos netos se livrem do assunto.
Em resumo, o dr. Salgado deixou uma data de gente a tinir, fez contas mal feitas, encanou a perna a inúmeras rãs e, como não podia deixar de ser, deu com os burrinhos na água. O resultado final é catastrófico, como se sabe.
Isto faz lembrar um certo Pinto de Sousa, dito Sócrates, que, com a sua gente, se dedicou, anos e anos, a criar as inúmeras crateras em que o país tropeçou e se afundou. As mesmas decisões mal pensadas, a mesma contabilidade criativa, a mesma mania das grandezas, a mesma espiral de endividamento, até que já não havia por onde sair, nem tapetes para esconder o lixo, nem quem emprestasse um chavo. Era o fim.
Entre Salgado e Pinto de Sousa, há semelhanças gritantes e algumas diferenças.
Semelhanças; a mesma imprevisão, o mesmo tipo de contas, a mesma inconsciência, a mesma arrogância, os mesmos recursos para o disfarce, a mesma bancarrota final.
As consequências, essas são diversas.
Um arruinou um banco, uma família, uma data de gente.
O outro arruinou um país.
Um está em liberdade condicional.
O outro dá “lições” na televisão do Estado.
Um tem a família arruinada e em guerra.
O outro tem-na sossegada e bem disposta.
Mais semelhanças: têm os seus adeptos, apoiantes da sua obra.
Um tem fantásticos defensores, como é o caso desses dois monstros da nossa advocacia, Proença de Carvalho e Júdice, conhecidos men for all seasons.
Outro tem o PS, sem vergonha nem dignidade, a branquear-lhe os feitos e a tecer-lhe elogios, até há pouco com alguma contenção, agora abertamente.
Uma coisa é certa, e também aponta para semelhanças: toda a gente sabe que o BES era o banco do regime socratista. Toda a gente sabe da cumplicidade entre o chefe de um e o chefe do outro. E até toda a gente sabe que os advogados são os mesmos e que até apoiam o Costa!
Mais uma vez, a diferença é que um está sob fiança, o outro é estrela da televisão do Estado.
8.11.14
António Borges de Carvalho